sábado, 19 de setembro de 2015

Clichés


Hoje decidi que é tempo de mudança porque a mudança vem sempre a tempo. Tomei a decisão de que é tempo de deixar de me lamuriar por coisas que já passaram e que não tiraram bilhete de volta. O mundo dá tantas voltas como as que a vida dá, e tentar andar ao contrário da rotação terrestre é burrice e perda de tempo. Se não dá, não dá. Se não deu, nunca voltará a dar. As pessoas deixaram de se encaixar e moldar umas às outras, deixaram de pedir desculpa e de dizer Adeus com aviso prévio. Deixaram de se importar com os sentimentos de quem quer que seja, e não se importam de calcar os nossos pés enquanto tentamos dançar uma valsa.
A aventura começou, e é altura de partir à descoberta. Uma vez, não há muito tempo, li que aquilo que deixamos para trás nunca é melhor do que aquilo que nos espera em frente. É preciso levantar a cabeça, desta vez a sério, e ficar com este pensamento firme: existe muito mais por aí do que aquilo que imaginamos. Já faz muito tempo que decidi deixar para trás aquilo que me fazia pior, mas é mais fácil dizer que isso vai acontecer do que fazer com que aconteça. Vamos arrastando a pele que já devia ter saído do nosso corpo por aí, guardando no bolso o esqueleto de amores perdidos, de desamores e dissabores, de amizades desfeitas… É tempo de mudar o tempo. De apagar da nossa história toda essa carga que carregamos nos ombros. Dar o nome certo ao que as coisas são, sem adicionar adornos. É. Foi. Será.
É altura de te/vos arrancar do fio ao qual se prendem ao meu coração, e vos atirar borda fora. Preciso de espaço para mais dores, dissabores, mas também alegrias e felicidade. Preciso de mim, como era antes de ti. Embora seja experiência, que não passe disso.

E ao contrário de muitos, eu digo: Adeus. Não é um Até Já.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

You

                

                Quando achava que o meu subconsciente me andava a pregar partidas e eu andava a viver outras vidas que não a minha depois de baixar as pálpebras, apareces-me tu. Já me tinha questionado várias vezes sobre a razão pela qual nunca me tinhas aparecido no mundo paralelo para o qual não pago bilhete quando o visito. Logo tu, que fazes parte da minha vida há tanto tempo e que tantas vezes acabaste a – sem querer – rebentar com a minha sanidade e com os vasos sanguíneos que vivem no meu coração. Ultimamente as circunstâncias não têm sido as melhores, e as coisas têm sido complicadas, admito. Mas também admito que não são só as coisas que são complicadas: francamente, eu também o sou. Creio que é possível ver a olho nu a névoa de sentimentos de que sou feita, e o quão esgotante é conviver comigo.
                É deprimente quando tudo o que mais queremos relembrar são os contornos de que são feitos os nossos sonhos, e na nossa mente apenas se conservam flashes de momentos que lá vivemos. Por mais que queiramos alimentar-nos daquilo que nos mostrou o nosso cérebro de forma inconsciente e reviver aqueles segundos vezes e vezes sem conta, até à exaustão – ou por muito que queiramos descrever aquilo num mero desenrolar de palavras –, não conseguimos chegar-lhe. Parece demasiado longe, tal como a possibilidade de se tornar real.
                No meio da zanga que me impedia de voltar para ti, entre a incredulidade da situação e a raiva que sentia, baixei a guarda. Derrubei as paredes construídas pelo meu orgulho, e quando viravas as costas para te ires embora, abracei-te. Abracei-te como quem abraça o seu mundo com medo que ele caia, com um aperto tão grande como aquele que sentia no ente, tão forte como aquilo que sinto por ti. Abracei-te, e só me lembro de acordar.
                Agora, falta que os sonhos se tornem realidade e que eu seja capaz de me derrubar a mim própria.


domingo, 26 de julho de 2015

I need you so much closer


Todos os dias, uma nova marca. Carregada com cor de giz vermelho, mas com a força de uma foice. Quando nos esquecemos que a vida dos outros acontece enquanto nós estamos mais preocupados com a nossa e com a daqueles com quem convivemos no dia-a-dia, o mundo dá voltas: voltas que nós só queríamos ter evitado. As ondas dos oceanos acontecem, os ventos acontecem, os pingos de chuva acontecem, os raios de sol acontecem – a vida acontece. É nestes momentos que nos apercebemos que andamos demasiado preocupados com coisas levianas ao invés de com o passar do tempo. Preciso de ser levada pelas ondas do oceano, de viajar entre os ventos, e sentir a chuva e o sol. Preciso de fugir. De ti, de ti e de ti.
                Achei que a armadura que tinha vestido era forte o suficiente para me proteger desta reviravolta; agora sinto que não o é. Acho que nunca ninguém está preparado para que nos tirem o tapete de debaixo dos pés e nos atirem para o espaço… Parece que, por mais voltas que tenhamos dado, nunca somos aquela pessoa, a certa.
Nunca me preferiste. Nunca fui a tua primeira opção. Fechaste-me dentro de um pote só meu, onde fui tua, mas nunca fui Aquela. Fui sempre aquela. A que estava sempre lá, e a que sabia que também estavas sempre lá. A única coisa de que me posso queixar ao fim destes anos todos foi por nunca me teres amado como eu te amei. Nunca te fui suficiente dessa maneira que queria. É por isso que preciso de fechar este capítulo de uma vez por todas. Preciso não só de viajar entre os ventos, mas também dentro da minha mente, de forma a conseguir fazer um trato com ela e, assim, tirar-te daquele compartimento só teu – que tanto espaço ocupa – dentro do meu órgão propulsor. Podes continuar lá, até porque continuo a precisar de ti. Mas preciso que te encostes a um canto, e não sejas mais do que aquilo que consegues ser. És tanto na minha vida, que nunca quero que vás embora. Sinto-me pequenina, sem ti.
Fica.
Mas se vais ficar, preciso que compreendas que às vezes sentimos demasiado. E quando isso acontece, a única solução é fugir.
Não de ti.
De ti, nunca.

Mas daquilo que me fazes sentir: segura, única, eu.

domingo, 19 de julho de 2015

A última vez que te vi




Não doeu. Não chorei. Custou-me a alma, mas sei que será mais positivo para mim do que para ti. Deixaste de me fazer sentido, até porque nunca fiz sentido para ti, percebo-o ainda mais agora. A chapada que me deste não foi de luva branca: tomara que o fosse, mas acho que nunca o conseguirás fazer. A chapada que me deste, foi feita de mentiras. Tentaste tapar-me os olhos quando eu estava a ver melhor do que qualquer pessoa, nitidamente, perfeitamente. Mostraste que não posso confiar em ti e confirmaste o teu (de)sentimento.
Dizem que as mulheres têm um sexto sentido, e eu diria que o meu nunca esteve tão apurado como naquele dia em que, quase sem me aperceber, rasgaste o capítulo do teu livro que tinha como título o meu nome. Pensava eu, na minha inocência, que conseguiríamos ser simples companheiros... Hoje, não vai dar. Amanhã, não quero. Talvez um dia seja possível arrancar do meu peito a cicatriz que lhe deixaste.
Neste momento, não vou dizer que não me magoas porque estaria a mentir. Foi por isso que, nesta última vez que te vi, nesta última vez que me viste, nesta última vez que nos vimos, te digo Adeus. Não sou eu quem vai embora – és tu. A pessoa que conheci, a pessoa em quem confiei, a pessoa de quem gostei. Ir para longe é diferente de ir embora.
 Quando eu voltar, já não te devo conhecer. Espero que não aconteça. Espero que sejas verdadeiro e não te escondas por detrás de máscaras com sorrisos falsos, olhos brilhantes, e o teu coração continue desconectado da tua mente. Na última vez que te vi, vi-te realmente: internamente só, externamente acompanhado. Vi-te. Vi-nos.

E que esteja enganada.

domingo, 12 de julho de 2015

Horas certas

                
               Este céu… Lembra-me de ti. Não é pelo azul inexistente dos teus olhos cor de mar, ou pelas nuvens feitas do algodão doce que partilhávamos na festa da terrinha. Não.
                Apercebi-me de que quanto mais olhava para ele, mais ele me fazia lembrar-te. As nuvens pareciam construir um caminho que – quase o juro – tenho a certeza me levava até à tua presença. Foi por isso que, mal cheguei a casa, fugi logo para longe. Não queria aproximar-me, muito menos reaproximar-me.
                Aquilo que me faz lembrar de ti quando olho para aquela eternidade pintada a azul com uns adornos esbranquiçados, é a sua serenidade. A profundidade com que, de rompante, me olhavas por entre cada bafo no cigarro e te fechavas em desabafos sobre a vida. A tua calma enquanto me davas a mão antes de irmos até ao café, como se tivéssemos feito isso uma vida inteira.

Conheço várias histórias de amor: cada uma com o seu encanto, cada uma com a sua magia, e todas de géneros diferentes. Aquelas que começam ainda a puberdade mal atacou, e que só terminarão quando a morte os separar; aquelas que nascem de um outro sentimento tão ou mais colorido que o amor, e que viram o mundo dos que dela fazem parte do avesso; as que nascem e, por momentos, desfalecem mas, quando menos se espera, voltam à vida com mais força; as que aparecem de um encontrão entre dois desconhecidos… São tantas, e todas tão bonitas… Mas nenhuma é tão linda como a que melhor conheço. Que nasceu do céu, porque é dele que os teus olhos são feitos. Porque é dele que o meu coração é feito. Que nasceu do mar, porque é ele que contorna a tua alma e a minha quando se encontram. Nenhuma é tão linda como aquela.

Fujo de ti porque sei que não é certo que te volte a dar a mão. As nuvens tentam seduzir-me, trazem-me lembranças que me eriçam os pêlos, puxam-me na tua direção. Mas eu não posso nada mais fazer que fugir, porque tu não és meu. Nunca o foste, e é por isso que tomo um comprimido anti-memória para as dores de coração em forma garrafal, e me escondo entre os cobertores. Quero que o céu chova, e as nuvens esbranquiçadas deixem de morar em cima da minha casa. Ela deixou de ser também a tua morada, e é hora de irem embora. Nas horas certas, ainda vou pedindo o mesmo desejo há meses. Vou tentando. Sem persistência, nada acontece. Fujo de ti.
Aquela.
A nossa?

Aquela que não me pertence.

domingo, 28 de junho de 2015

(Blank Space)


Deixaste-te ficar pelo silêncio. Escondeste-te por detrás dos balões do pensamento mas nunca, em momento algum, conseguiste explicar-te. Os diálogos que se estendiam pelas madrugadas foram substituídos pelos suspiros de saudade daquilo que nunca existiu realmente. As juras – que não eram mais do que palavras – foram substituídas por um desviar do olhar no meio do corredor. Como se não nos conhecêssemos, como se não tivéssemos partilhado histórias e medos, aspirações e desejos. Camuflaste-te no meio do silêncio, e deixaste-me à deriva; partiste do princípio de que eu não queria saber porque, também eu, decidi optar por ele. Não foi rancor. Não foi ciúme. Decidi-me pelo silêncio e pela distância, porque essa, naquele momento, me parecia a resposta mais direta para a desilusão que sentia. Porque as pessoas gostam de usar palavras (que mais parecem navalhas) quando a cabeça lhes ferve, e depois essas palavras fazem ricochete e voltam para elas mais fortes e destruidoras. Achei que conseguia ignorar sem me autodestruir... E a verdade é que me reconstruí.
Deixaste-te ficar pelo silêncio. Deixei-me ficar pelo silêncio. E agora aqui estamos: dois desconhecidos que se conhecem tão bem.

Longe.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Insight


No meio da confusão, apercebi-me. Por entre apontamentos coloridos, folhas espalhadas, saberes por aprender e palavras por dizer, apercebi-me. Provavelmente já o sabia, no entanto teimava em achar que o defeito não era meu. Se já tinhas tantos, como outra pessoa qualquer, porque não haverias de ter outro? Mas, desta vez, talvez tenha sido eu a enganar-me.
Passara os últimos tempos a achar que ele tinha uma venda nos olhos que o impossibilitava de ver que éramos feitos um para o outro: não éramos carne da mesma carne, ou sangue do mesmo sangue, mas completavamo-nos como um café e uma nata. Tu e eu. Éramos tu e eu. Convenci-me de que o único problema aqui era a incapacidade dele de amar alguém, o medo de dar um passo em frente, e o único desejo de receber e pouco dar. Mas até que ponto será isso verdade?
Virei uma página e tentei deixa-lo nela. No entanto, enquanto a escrevia, borratei a mão com a caneta ainda por secar, e ele foi deixando rastos na página seguinte. De quando a quando, lá está ele. A estragar uma folha completamente perfeita, um novo capítulo de uma história que ainda tem tanta tinta por escorrer – mas está ali. Para que ele deixe de reaparecer em cada nova página que escrevo, terei que lavar as marcas dele da minha mão, do meu corpo, do meu coração. Preciso de ser forte e compreender que é o melhor a fazer.
Os seus pensamentos enrodilharam-se de tal maneira que, desta vez, vira com clareza o que estava à sua frente há tanto tempo: outrora, não estivera cega. Naquele momento, também não.  Não tinha sido suficiente para ele. Não digo que não tenha sido boa o suficiente, ou aquela que o faria mudar… Simplesmente, não era quem ele procurava. Podia até o ter acarinhado como mais ninguém fizera, podia ter-lhe dado sentimentos que ele nunca mais encontraria por mais que procurasse em cada esquina; mas simplesmente não era suficiente. Já devia ter partido faz tempo, mas decidiu ficar ali, a deleitar-se com o prosseguir de uma história que não a deleitava de todo. Perfurava-lhe o coração por mais que ela o negasse e, no fundo do seu ser, só queria sair dali.
Mas compreendera. O fim já tinha sido há muito. Não queria voltar atrás, mas é difícil tirar marcas que tinham sido tão bem cravadas nos poros do seu peito. Era difícil esquecer, porque a memória convive connosco e não nos permite faze-lo quando nos apraz.
Não tinha sido suficiente, mas estava contente por isso. Ele também não era suficiente para ela.

Só faltava ela própria compreender isso.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Rescue You

Procuras por ela em cada canto. Tentas encontra-la em cada objeto que pegas e por cada lugar que passas. Tentas vê-la nas árvores ou atrás dos arbustos, como se soubesses exatamente onde poderias encontra-la mesmo que ela não se escondesse. Procuras no mar, no céu, nas nuvens, e na lua. Ainda assim, sentes-te incompleto. Precisas do toque e da certeza que ela está ali, ainda que não sejam as mãos dela ou o coração dela debaixo daquele peito que pensas ser teu. Buscas pela sua presença, mas agora nos outros. Imagina-la e sonhar com ela não é suficiente, e aquilo de que precisas já é mais carnal do que espiritual. Não há plenitude em ti sem que saibas que está ali alguém que te cuide, ainda que na maioria das vezes te faças muito senhor do teu nariz, te feches, e não o permitas. Tu queres, mas não te dás de volta. Desejas sentir-te cheio - seja lá do que for - e esqueceste de que aquela que pensas ser A Substituta de quem procuras, é igualmente uma pessoa. Mesmo sabendo que não há quem possa ocupar o lugar dela, lugar esse de onde a tiraste praticamente ao pontapé, continuas a tentar.
Procuras pelos olhos dela naquelas que passam por ti na rua e te sorriem, esquecendo-te que ela também sorria com os olhos; procuras pelos cabelos, tendo a certeza que aquilo que os segura, é bem diferente do d'As Outras; tentas encontrar a estranheza dela na timidez das que partilham contigo um banco, mas parece que deixaste de compreender que era isso que mais vos ligava um ao outro, e que não há maneira de a reencontrar.
É certo que continua ali. Vai observando o teu percurso, e fazendo o dela em paralelo. Lembrou-se que precisava de pensar em si própria, e partiu os carris que a levavam a cruzar-se no teu caminho outra vez. Mas não se esqueceu que tu existes. Só está à espera que as coisas melhorem e que, mais importante, tu melhores. É mau estar doente do coração, principalmente quando essa maleita é transmissível.

Cuida de ti, meu pequeno. Ela só quer que cuides de ti.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tempo que mata

               

               As horas foram passando, e com o roçar leve dos tique-taques na base do relógio, fui-me apercebendo daquilo que me rodeava. Vislumbrei o mundo que estava à minha volta, baixei a guarda que me cegava com o coração, e compreendi. Nunca somos Únicos para ninguém. Nunca marcamos tanto quanto pensamos. Por vezes, é a nossa esperança que nos faz acreditar que sim – que, com as nossas próprias mãos, cravámos uma história na pele de outrem e que essa história não é soprada pelo vento do tempo. O bom desta descoberta é que, pela primeira vez em muito tempo, o nosso mundo não ruiu. Parece que o passar das horas também foi montando uma cama de penas que abafou a nossa queda e que depressa nos levantou a cabeça; observamos a vida à nossa volta, e sentimo-nos plenos. Percebemos que o que foi, está no passado, e às vezes é mesmo preciso mudar de página, de capítulo, de livro, ou até de volume ou saga. É necessário conseguir olharmo-nos ao espelho e não nos vermos como atores secundários da peça em que deveríamos ser principais, imaginando aquela que achávamos ser um espécime de alma gémea com a mão no nosso ombro – mais a tocar no coração. É altura de atentar no que é realmente importante, e começar a deixar de parte aquilo que um dia nos tirou um pedaço… É certo que ele nos faz falta, mas se voltasse, já não se moldaria em mim. Com todas as batalhas, não sou a mesma pessoa. Os pontapés que me foram dando de quando a quando, e que eu afagava com sentimento, passaram a ser-me imunes. Muito se diz que o que não nos mata, nos torna mais fortes: e não é que percebo que agora é verdade?
                Claro que as coisas não se esvaem assim do nada. Tal como uma pequena semente gera uma enorme flor se for regada decentemente, basta eu esquecer-me de uma migalha de ti por entre o meu peito. Mas desta vez, farei de tudo para que ela não rejuvenesça. Já chega, é altura de ir embora. É altura dos ponteiros do relógio pararem, e eu atira-lo ao mar.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Karma's beautiful


Já magoei. Mas também já fui magoada. Continuo a sê-lo, quase todos os dias, como se levasse com uma apunhalada nas costas de cada vez que o fizessem. Quando digo "mágoa" não me refiro a uma simples dor física, mas sim a uma dor mais profunda e forte – uma dor emocional. Por vezes acompanhada de um palpitar mais forte de coração, é certo, mas emocional e não carnal.
Há uma coisa na nossa vida muito engraçada que tem a mania de colocar as coisas no seu devido lugar. É um tema constante naquilo que vou desenhando no papel, e denomina-se de karma. Em tom de confidência, creio que este precisa de uma desenferrujadela, mas normalmente faz tudo devidamente, embora a maioria das vezes o odiemos e achemos que está a virar a nossa vida do avesso. Relembra-nos que quando achamos que está tudo perfeito, há aquele pormenor que altera tudo. Ilumina-nos com a Lua quando queremos raios do Sol, tira-nos o chão quando precisamos de voar. Atira-nos com areia para a cara quando nos parece que o vento está a soprar a nosso favor. Empurra-nos para o precipício quando achamos que temos algo que nos ampare lá em baixo. Dá-nos nada quando queremos tudo. E é aqui que devemos parar para pensar: dá-nos tudo quando não queremos nada. Naquele momento em que desistimos, quando achamos que já não há nada a fazer e deixamos de nos importar com os outros (e, às vezes, connosco próprios), o karma oferece-nos uma razão. Algo que nos faz brilhar os olhos e desencarcera os palpitares cardíacos. Oferece-nos uma visão nova do mundo. Mostra-nos novas perspetivas.

Tu já viraste a página. Resta saber quando é que vou virar a minha.

segunda-feira, 9 de março de 2015

"Depois da despedida...

                

               Tenho saudades tuas. Infelizmente não posso mentir a mim própria e dizer o contrário. É impossível tentar mentalizar-me dessa (ir)realidade quando a cada passo que dás para mais perto de mim, o meu peito rebenta de saudades tuas; não são daquelas de quem está longe e de quem já não se toca há muito tempo. É certo que o toque mudou. O tipo de distância alterou-se. Mas as circunstâncias não são as mesmas e, por isso, tenho saudades tuas. Daquele tipo que nos faz querer abrir o estômago e assassinar todas as borboletas, que nos leva a atirar ao precipício sem ter a certeza da existência de colchões que nos amparem, que nos obriga a mentir a nós próprios e a fazer-nos crer que ainda não acabou, que nos persuade a ser esperançosos quando já não existe mais nada a que nos possamos agarrar. É lixado ter saudades e não saber o que fazer. Ter necessidade de sacar da pistola e aponta-la à cabeça do objeto saudoso de maneira a que estas desapareçam para sempre e não magoem mais.
Pior que sentir falta de alguém, é sentir falta de algo. Sinceramente não sei se era um sentimento, se era uma necessidade. Mas era alguma coisa. E por muito que se pegue na borracha e se sente apagar as memórias, basta viajar para o mundo dos sonhos – que rapidamente passam a pesadelos. O inconsciente relembra-nos, o coração sente. Tudo volta.
                Ter saudades estraga tudo quando o que mais queremos é não as sentir. Ocupar o cérebro e ignorar aquilo que está escrito do lado esquerdo do peito não acontece a toda a hora. Renascem as saudades. A mágoa. Vale a pena?
                Não. Acho que não. Não sei.

                Sentir é assim: não saber de nada, e não saber se queremos saber. 



...fica o eco do Adeus"

domingo, 8 de fevereiro de 2015

feeling's flake





Não te posso ir amando se o tempo vai passando. É possível que se faça uma bola de neve de sentimentos... E, ao longo da montanha, ela vá aumentando. Cada vez mais. Quanto mais eu vou diminuindo, sentindo-me cada vez mais pequena e ínfima, mais se agiganta esta bola de neve. Se ela transbordar, também eu transbordo com ela. Quanto mais tempo passar, mais as emoções me consomem. Ao destino, apraz-lhe adicionar esperanças em forma de fermento à bola já gigante.
São tantas as vezes que nos deixamos levar por aquilo que o vento nos sussurra ao ouvido, que são tantas as outras vezes que nos esquecemos de dar uma oportunidade ao nosso cérebro. É certo que sempre fui adepta de darmos atenção ao que nos transmite o órgão propulsor mas… e se?
Eles comunicam, mas não existe um contra balanceamento. Há sempre algum que tomará mais peso da nossa decisão que o outro e, desde que me conheço, que tem sido o dono do palpitar do lado esquerdo do peito a que tenho dado mais importância. Sentir tudo, de uma só vez. Arrepiar-me enquanto a minha bola sentimental passa por mim e me congela os ossos. Sentir a brisa fresca espalhar-se pelos meus poros ao mesmo tempo que, para a contrariar, o coração espalha calor pelo meu corpo: é por isso que continuo. Sã. Em pé. Com força.
E se, quando queremos tomar decisões só de alma e coração, quando a nossa maior vontade é seguir aquilo que ele nos diz – ainda que pareça loucura – e é o nosso cérebro que tem toda a razão? E se o melhor é apanhar um trenó e perseguir a bola antes que ela fique maior e leve todo o nosso eu para fora do planeta? Por vezes, temos de tomar decisões que vão contra a nossa vontade. Devemos nadar contra a maré e correr contra o vento. Mesmo que doa. Mesmo que custe. Por vezes, temos de pensar no nosso bem-estar mental e não nos aventurarmos nesse iglô que é o amor. É difícil adaptarmo-nos ao frio mas, se entrarmos no iglô e simpatizarmos com os esquimós, passamos a fazer parte da sua comunidade. Transformamo-nos nos enamorados que usam casacos de pêlo feitos de paixão e se alimentam do dar e receber. Passamos a conhecer o amor depois de atravessarmos a tempestade. Mas nem toda a gente é capaz de as ultrapassar – umas são mais complicadas que outras. Há que ir fazendo pausas pelo caminho, e tentar descansar.

Mas não quer dizer que a bola de sentimentos não continue a descer a montanha. Por mais cordas a que a tenhamos prendido para que ela não se mova, não há nada que nos faça parar de amar. Não há nada que impeça a bola por muito tempo de continuar a descer a montanha. De amar. De transbordar. Por mais que se pense, também se ama.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

The Revolt

                

                Não vale a pena continuar a imaginar e sonhar com contos de fadas porque a sua resolução é óbvia: o príncipe (des)encantado vem atrás de nós e, enquanto nos beija o pescoço e nos sussurra palavras de amor, espeta-nos uma faca nas costas e roda-a. 
                Não vale a pena continuar a esconder palavras que escrevemos nas horas vagas da noite só porque temos medo que sejam mal interpretadas – provavelmente não irão ter consequências positivas, então, não desperdicemos os nossos dedos no teclado e mostremos ao mundo aquilo que sentimos. Seja o que Deus quiser.
                As expetativas, guardem-nas no bolso do coração do vosso casaco preferido. Depois tirem o casaco, ateiem-lhe fogo e fiquem a observar o vosso sofrimento a esvoaçar nas chamas e na cinza. No final da fogueira, dancem em cima dela: sintam-se livres, esperançosas, sintam-se vocês, sintam amor.
                Não vale a pena esperar. Se as coisas voltam, não voltam as mesmas. Antes de retornarem, deram a volta ao mundo em oitenta dias (ou um pouco mais), pensaram, sentiram falta, viram coisas novas e, pouco a pouco, as células da sua pele deixaram de ser as mesmas. Aquelas mãos, nunca tocamos. Aquele olhar, deixamos de conhecer. Aqueles lábios… esquecemo-nos do sabor. Aquela pessoa, parece-nos a mesma. Mas será?
                Há quem diga que a negação é uma das fases do sarar da ferida. Eu não sei, mas sinto-a todos os dias. Relativamente a tudo. Por isso, karma, se me estás a ouvir… Estás a precisar de ir para a reforma. E contigo, leva o cupido. Creio que precisa de ir ao oftalmologista. Ou então… se me estão a dar maus sinais, resolvam-nos a tempo de eu não auto-degolar o meu coração. Um sinal qualquer. Algo que me diga “calma, não é desta!”; porque se assim for, eu sento-me na cadeira da sala com uma chávena de chá e, não querendo descredibilizar aquilo que disse anteriormente, espero.
                Porque nós somos assim. Dizemos tudo e mais alguma coisa, queremos andar à porrada, queremos sangue, suor e lágrimas mas, no final, só queremos amor.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Touch U

              


                Antes de ter coragem para levantar as pálpebras e enfrentar os raios solares de um novo dia, imaginei-te só mais um bocadinho. Virei-me de lado, para ficar mais confortável, e pensei em ti mais uma vez. Esta noite tentei agarrar-te enquanto, de forma repentina e inesperada, me apareceste num sonho. Como sempre, fugiste-me entre os dedos. Fico sempre atordoada quando decides invadir o mais profundo da minha mente, e por mais que tente correr atrás de ti, há sempre algo que me impede de te alcançar. Voltei a virar-me e, desta vez, abri os olhos. Não posso continuar a viver num mundo de sonhos quando a realidade, lá fora, ordena que a vá viver. 
                Durante a viagem, fecho um pouco os olhos. O teu olhar atravessa-me o pensamento e dá-me uma fisgada no coração. Não posso continuar a andar atrás de algo que teima em fugir de mim e que não pensa sequer em abrandar. Por mais que o tom da tua voz e a lembrança do teu semblante façam o meu coração bater, não é possível se não remarmos para o mesmo lado. Preciso que me dês a mão e que, juntos, nos atiremos ao precipício. Não vivemos de quases, mas vivemos de metades, se considerarmos que temos metades que se completam. Se formos para ser, não existirá dor quando os tímpanos rebentarem e quando a falta de gravidade nos tirar os pés do chão. Se for para ser, havemos de arranjar uma maneira para que tudo resulte. Porque é assim que se conjuga o verbo gostar: alienamo-nos ao lutar, ao tentar, e ao desistir (com uma pequena negação antes, claro). Além disso, acrescentamos uma pequena pitada de arriscar e está pronto. Não precisamos de ter medo de nos lançarmos num vácuo ao qual nós próprios podemos dar alguma cor, sem utilizarmos o pára-quedas.

                Fecho novamente os olhos. Penso em ti. Sorrio. Fazes-me bem quando estás perto de mim. Viro-me de lado, para ficar mais confortável, e relembro a tua expressão quando olhas para mim. Esta noite consegui agarrar-te quando apareceste atrás da porta da sala, no meu sonho. Abracei-te e sussurrei-te ao ouvido que tinha saudades tuas. Nesse momento, o sonho terminou. Levantei as pálpebras, e encarei a realidade.