Temos o vício de olhar para trás quando o nosso percurso de vida parece estar a formar um sorriso, o que é errado. Temos sempre tendência a achar que o que já passou é o melhor e que tudo até aqui parece não fazer sentido. Graças a isso, já não nos apetece encarar o futuro: tudo o que queremos é o que já foi e não volta, o tempo que já percorremos e ao qual não podemos voltar a caminhar por cima. Quando deixámos lá os nossos passos, as cordas da ponte que ligava o antes ao agora romperam e deixámo-nos partir ao alcance do horizonte.
Muitas vezes acontece que deixamos pedaços de nós do outro lado da ponte, irremediavelmente perdidos no passado, e os quais deveríamos supostamente substituir por uns novos. Na maior parte dos casos, deixamos lá o nosso coração, o que consideramos ser irrecuperável até termos finalmente coragem para olhar em frente e nos apercebemos que nada é irrecuperável. Há sim que arranjar um espaço só nosso no vindouro, onde possamos lamber as feridas criadas pela aventura do episódio anterior, e continuar a percorrer o caminho já delineado.
Quando conseguirmos dizer para nós próprios eu superei é que as portas do que virá se irão abrir para nós e do outro lado seremos recebidos por uma bandeja de ouro com ligaduras, para que nos possamos preparar para uma nova aventura, no outro lado da ponte.