terça-feira, 19 de janeiro de 2010

olhos de mel


estava sentada no muro ao lado do café a desenhar um pequeno girassol que floria à minha frente. às vezes gostava de ser como elas, as flores, florescer linda e esbelta, e morrer pouco tempo depois, sem memórias. ando tão presa a elas ultimamente, parece que nenhuma delas quer ir embora, e todas teimam em permanecer bem junto a mim.
na minha vida parece que o novo ano nem começou; as memórias continuam, completamente coladas ao meu coração, sendo parte dele. mas já são antigas, vêm de trás, de trás, de trás. mas às vezes desejo que elas fiquem. é algum inconstante, porque tudo depende do que vai acontecendo.
estava a fazer uma pétala do girassol, quando sinto alguém tocar-me no ombro - que quase me fez estragar o meu belo trabalho -, quem era este?
puxou-me pela mão, sem uma única palavra. pegou-me ao colo, e levou-me para o meio do jardim. (seria um jardim ou uma floresta? às vezes deparo-me com cada questão...) não sei. parece que só o olhar dele contra a minha face me fazia pensar que o conhecia à tanto tempo como me conhecia a mim. como se os olhos dele - castanhos avelã, com um tom de mel - fossem o espelho para o qual eu olhava todos os dias. e o cabelo dava-me uma enorme vontade de o agarrar. a forma como os braços rodeavam o meu corpo era como se marcassem terreno, como se fosse sua. é bom de vez em quando caracterizar um (des)conhecido desta forma, tão pormenorizada. de vez em quando há os romances do momento, romances de vista, romances repentinos, e pode-se dizer que este foi um de rompante. coisas que vão, que passam, ou como as minhas infinitas memórias, permanecem. depois de vários minutos em estado K.O voltei à vida, ainda no colo do talvez meu cavaleiro andante, que apareceu do nada, vindo do nada, para me buscar a mim. a talvez sua bela (quase) adormecida.
depois de uma distância que nem dei conta passar, por estar hipnotizada pelos olhos mais perfeitos do mundo, fui colocada no chão e abraçada. o abraço mais sentido de sempre. senti o seu coração a bater no meu peito, como se fosse realmente meu. ouvi a respiração acelerada, e senti o hálito no meu pescoço - que me deu arrepios.
o abraço parece que continuou horas e horas, mas não me importei. por mim poderia ficar agarrada àquele desconhecido para o resto da vida, no meio dos seus braços que mais pareciam muralhas sentia-me completamente protegida. tudo de bom se concentrava ali... talvez.
parou, e muito devagar afastou-se, afastando-me de si e do seu coração galopante. mas desta vez agarrou nas minhas duas mãos, olhou para mim e sorriu. meu deus, meu deus! algum dia vi sorriso mais perfeito? os dentes brilhantes e completamente alinhados quase me ofuscavam. mas eram tão lindos. na verdade, todo o seu ser era lindo, completamente perfeito. aproximou-se novamente do meu pescoço, beijou-o e disse que sempre estivera à minha espera. na verdade, quem esteve sempre à sua espera fui eu. e tudo acabou. acordei, e tudo se desfez em memórias que permanecem.
onde andas, olhos de mel?

sábado, 9 de janeiro de 2010

onde?

está frio mas eu não tenho medo. estou a tremer, tenho as mãos roxas e o coração partido. apenas caminho, mas quase caio. sinto-me sem forças, quase no fundo do poço. está escuro, ouço gemidos de dor, e por aqui parece não haver grilos. mas ainda assim, não tenho medo e continuo em frente. ando aqui sem destino, mas quê? a algum lado hei-de chegar. nem sei como vim parar aqui... acordei entre os meus lençóis no meio de um deserto gelado. não entendo nada disto, mas tenho que sair daqui, há-de haver alguma coisa que possa fazer. na noite anterior tinha chorado e derramado todas as lágrimas na minha almofada. sabia que a esta hora ela ainda estaria completamente encharcada, pois enquanto durmo, choro também. está vento, e já tenho até a cara arrepiada. será que o motivo disto tudo é eu congelar? só pode ser. começou a chover. como é possível chover num deserto? não há árvores onde me possa abrigar, não há arbustos, não há absolutamente nada. só areia congelada. uma gota cai no meu lábio, e provo-a. é salgada. é uma chuva de lágrimas, talvez as minhas lágrimas. agora os gemidos foram trocados por vozes. vozes melancólicas que chamam por mim, sigo-as e continuo perdida. tropeço em mim própria e caio. estou perdida, tenho frio, o meu coração está completamente despedaçado e não sei o que fazer. adormeço e acordo de novo na minha cama, envolta nos meus lençóis quentes, e com a cabeça sob a minha almofada encharcada. foi tudo um sonho

domingo, 3 de janeiro de 2010

i knew it

eu sabia. talvez sempre tivesse sabido, mas nunca tivesse querido ter a certeza. tu és um perdedor, sabes? não sabes jogar este jogo endiabrado, e aos poucos foste-me fugindo entre os dedos, sem eu dar conta. e agora estás longe, mais longe do que parecias estar. eu realmente sempre soube de tudo isto, porquê querer sempre bater na mesma tecla? era evidente aos olhos de toda a gente, era tão óbvio! porque não percebi logo? eram apenas miragens. mas sabes que mais? não me importo, mais uma carta caída do baralho. um 8, que não me serve de nada para jogar à sueca... portanto, enquanto o resto do baralho estiver inteiro, enquanto tiver as damas entre os reis e os valetes, basta-me. porque tu foste, e eu não tenho intenção de te deixar voltar, porque parte do que se tem passado fui eu que fiz com que acontecesse. a isto chama-se testar. testar os teus sentimentos por mim. e o resultado foi o que foi: zero. porque é que ainda me alimento de ilusões de vez em quando? não é justo, mas não é possível controlar. mas tudo passa, tudo se vai. tudo parte. tudo se despede. os males vão com o vento, e os bens ficam bem enterrados na pele. secalhar nunca devias ter chegado a mim.
mas às vezes sinto que já nem sei de nada, que já não entendo nada. que sou uma bola de ping-pong a meio de um jogo. e que fazer? ultrapassar. contornar as rotundas e saltar sobre os buracos.
o vento leva os meus cabelos para trás, e quer-me puxar a mim. mas atrás não voltarei, nunca mais!