segunda-feira, 4 de julho de 2016

Running Away

           

           Ela tentava fugir àquilo que sentia, mas de cada vez que parava pelo caminho para descansar e respirar fundo, o sentimento assolava-a como um trovão: deixava cada pêlo eriçado, o coração a palpitar freneticamente, as entranhas a contorcerem-se e os pensamentos a mil. Quando isso acontecia, ela voltava a correr como se a sua vida disso dependesse, de maneira que todas essas sensações eram deixadas para trás, apesar de ela ter a certeza que, da próxima vez que voltasse a parar, elas iriam apanha-la. Esta era uma corrida na qual ela não tinha qualquer hipótese de vencer. Era inevitável. O seu principal objetivo era, simplesmente, fugir para o mais longe que pudesse daquele sítio, daquele espaço no meio da terra, do perímetro no meio de um mundo tão grande. Tinha esperança que, a quanta mais distância estivesse de lá, menos os sentimentos a abalariam, e talvez conseguisse sobreviver. Nunca foi muito boa com sentimentos até ter que os encarar realmente de frente.
            De cabelos ao longo do corpo com uns jeitos emaranhados atrás das orelhas, pele cor de névoa e olhos de infinito, estava ela ali sentada. Não sabia o que a esperava e muito menos quem a esperava. Nunca estamos preparados para nada até termos que lidar com a realidade. Olhava para o além, e pensava em alguém. Alguém esse que, ultimamente, decidira tanto lhe oferecer um cravo, como lhe dar uma ferradura; era incompreensível para a maioria do mundo, mas totalmente compreensível para ela. Conheciam-se e ela, no meio de tanta incerteza que lhe toldava o pedaço de alma que lhe pertencia, tinha tanta certeza. Passava o tempo a imaginar o possível e o impossível, a escrever histórias na sua mente que faziam o coração remoer-se de desejo, e a pensar, ao mesmo tempo, que devia apagar tudo aquilo do seu pensamento – tinha por hábito considerar que se pensasse muito em algo bom, isso nunca iria acontecer. Era um karma estranho. Mas era também inevitável. E ela sabia-o.
            Com o seu jeito tão característico e caminhar orgulhoso, ele aproximou-se. Tinha noção que fazia parte dos seus sonhos faz tempo e, lá no fundo, apesar de não lhe contar, também sonhava com ela. Constantemente. Mas teimava em deixa-lo escondido, com medo de a perder, com medo de se perder. Avistou-a logo que sentiu o seu perfume, e foi-se aproximando. Nenhum dos dois sabia o que ali ia acontecer. Ele caminhava, com um nervoso miudinho a bater-lhe no peito, mas com um rosto impenetrável. Ela, sentada, no seu mundo, não se apercebia da sua presença, ainda que se sentisse constantemente ligada a ele. Passo. Passo. Passo.
            Sentiu alguém tocar no seu ombro. Olhou para trás.
            Foguetes. Estrelas. Música. Borboletas. Tudo. Nada.

         É difícil ser esbofeteada por tamanha força de sentimentos, quando não se sabe muito bem como lidar com eles. Em pensamento, tentava fugir. Fisicamente, ficou.
            Sempre.