quarta-feira, 30 de setembro de 2009

correio da saudade, correio da dor


Olá amor. Estou a escrever-te neste momento porque sinto falta de parte de mim. Partiste há algum tempo, e sei que neste momento não estás sequer a pensar em mim (não contavas sequer receber uma carta minha), sei que tens outra pessoa a teu lado a abraçar-te, a olhar para ti, e a perguntar-te de quem é esta carta. Sei que vais responder que não sabes, por isso vou deixá-la anónima. Sei que reconheces a minha forma de escrever por isso já sabes bem quem sou. O tempo tem passado devagar, e eu tenho tentado seguir a minha vida desde que partiste. Confesso que não tem sido a mesma coisa sem a tua presença. A tua ausência na nossa casa é silenciosa. O nosso cão já não late quando chegas do trabalho e o papagaio deixou de nos tentar imitar quando tínhamos os nossos momentos menos sóbrios e começávamos a dizer que nos amávamos aos berros e entre beijos até os vizinhos virem bater à nossa porta a perguntar se algo de mal se passava. Os nossos pequeninos sabem como me sinto, mas eu não o quero. Quero que eles continuem normais, mas parece-me ser impossível. Gostava de adoptar uma criança, mas este não me parece o momento mais apropriado para o fazer visto que passo o menos tempo possível em casa para evitar olhar para a nossa cama, para o nosso baloiço do jardim, para o nosso sofá repleto de almofadas em forma de coração. Se tivesse um filho teria de ser parecido contigo apesar de me fazer sofrer. Eu queria uma recordação tua que me pudesse acompanhar até ao resto da minha vida. Sabes o que era mesmo perfeito? Uma menina, sabes bem que sempre quis ser mãe de uma menina: com caracóis loiros e olhos castanhos esverdeados, branquinha como eu e com uns compridos dedos nas suas pequeninas mãos. Tenho pensado até em pôr a casa à venda ou tirar umas férias do meu trabalho que se resume em pensar em ti. Árduo não? Não parece, mas podes crer que é, ninguém queria ter este trabalho. Eu preferia até trabalhar nas obras ou algo assim, menos isso. Não sou bem paga mas dá para me sustentar. Tenho ar para respirar, e isso já basta para mim. Ah, no início da carta eu disse que sentia falta de parte de mim, mas querendo dizer bem, sinto a tua falta, porque tu és parte de mim sem saberes, mas ficaste agora a saber, apesar de já teres reparado. Eu sei que quando me deixaste, naquele dia cheio de sol e em que foi dos piores dias da minha vida disseste para eu te ir ligando, que sempre irias estar ao meu lado e que nunca me irias deixar, mas eu deixei-te ir, sem ligar, sem mensagens, sem tentativas de te visitar, com nada. Mas chegou a altura, não aguento mais. Ontem tropecei numa caixa no sótão e creio que está lá desde que te foste embora. Abria e estava cheia de fotos nossas. Tinha umas cartas tuas e umas minhas também, pois como te lembras, no dia em que me inseriste bem na tua vida e quando entraste pela minha casa dentro estivemos a ler as cartas que anteriormente tínhamos enviado um ao outro. Tudo isto entre carinhos e promessas de que era para sempre. Sei que te lembras tão bem como eu e que isso ainda agora não te é indiferente. Agora que sei que estás com outra pessoa não te vou pedir para voltar, era cruel e eu apenas quero o teu melhor. E se o teu melhor é estar com essa pessoa, então eu vou deixar sem me meter. Vou continuar a minha vida outra vez como se não te tivesse enviado esta carta, mas à espera da tua resposta. Sempre foste sincero comigo, sempre te preocupaste, e não ia ser agora que o deixarias de fazer. Ah já me esquecia, deixaste a tua camisa azul dentro do meu armário, aquela que usaste no nosso primeiro encontro. Estava tão lá no fundo que nunca a tinha visto. Foi esquecimento ou foi propositado? Já sabias que mais tarde a ia encontrar, agarrá-la e começar a chorar em cima da nossa antiga cama. Que ia pegar na nossa fotografia no nosso banco de jardim, que permanece na minha mesa-de-cabeceira e sentir, mais uma vez, saudade. Sabes bem que as coisas não mudam de um momento para o outro, foste tu que me ensinaste isso. E por isso eu sei bem que ainda me amas, tal como eu te amo a ti. Nunca te perguntei porque me deixaste, mas sei bem que na noite antes de o fazeres, uma chuva de incertezas caiu sobre ti, e por isso não me quiseste mais magoar e deixaste-me, pensando que acabarias por me esquecer. Mas sei bem que não o conseguiste. Mas deixa lá, eu também não o consegui, estamos quites. Olha encontrei aquele teu porta-chaves que tinhas perdido há dois anos atrás. Aquele em forma da lua em quarto minguante que tu tanto gostavas, estava debaixo do colchão, não sei porque foi lá parar! Mas pronto, está tudo dito. Espero a tua resposta, e tenta que a pessoa com quem estás agora não leia esta carta, não quero empatar ou destruir nada que já esteja construído com cimento. Até um dia.

P.S. “eu dava tudo para te ter aqui.”
não obtive resposta.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O 33.


A monótona vida alonga perante cada passo do nosso respirar que faz com que tenhamos meros acontecimentos que abanam tudo.
E todas as manhãs, pelas 8:00 horas eu via-te ali, mesmo no banco da frente do comboio. Sempre com o mesmo sorriso, o mesmo olhar. Sempre com o mesmo tom de voz ao dizer “Bom dia”, tão suave mas ao mesmo tempo tão certo de si.
Sentavas-te sempre perto de mim, e por vezes eu via que adormecias e deixavas que a tua cara fica-se junto ao vidro. Eu nunca parei de olhar para ti, apesar de não sentir nada, eu olhava sempre. Os teus olhos castanhos nunca me saíam da cabeça. Cada onda do teu cabelo estava fixa na minha cabeça. Os pormenores em teu redor faziam com que fosses cada vez mais especial, sem eu reparar. Quando saías do comboio para prosseguir o teu caminho, nem sequer reparavas em mim, não olhavas para mim, não dizias “adeus até amanhã” como eu sempre desejei. Apenas saías, e deixavas o teu perfume, mas tudo ficava num vazio.
No dia seguinte de manhã, tudo se repetia: as reacções, as sensibilidades, os movimentos.
Um dia decidi ir para o banco da frente, não sei porquê, mas foi o que me apeteceu fazer. Quando tu entraste no comboio olhaste para mim, e sorriste: “por estes lados menina?
Sorri e acenei que sim. Sentaste-te ao meu lado. Ao longo do caminho não trocámos uma palavra. Chegavas-te a mim, mas eu ficava sem movimento. Encostaste a cabeça ao meu ombro e olhaste para mim. Sussurras-te ao meu ouvido “és tu” e de repente chegou a tua hora de sair. Deste-me um suave beijo no rosto e saíste. Passei o dia todo a pensar nisso. No dia seguinte deram recado que eu tinha de passar a entrar numas paragens mais longínquas para o comboio e assim foi. Umas paragens depois de tu entrares. Entrei com esperança de te ver, mas não estava ninguém. Fiquei preocupada. Em várias semanas eu sentava-me naquele mesmo banco, naquele em que tu disseste que era eu, com esperanças que voltasses e me amasses. Mas nada… Tempos depois, encontrei naquele banco uma espécie de bilhete: “Peço desculpa por ter estado ausente nestes últimos tempos, mas o que tenho estado a fazer, tenho-o feito por ti. Espera pelo 33 de amanhã.” Não entendi. 33?
No dia seguinte de manhã não estavas lá. Passei o dia todo a pensar no que seria o 33. Não desvendei, não sabia. Nesse dia atrasei-me por completo, e para ir para casa, tive de apanhar outro comboio… o 33. ERA ISSO!
Quando entrei olhei em todo o meu redor, mas não encontrei ninguém. Não te vi, fiquei desesperada. Mas de repente alguém me toca no ombro, e..eras tu. Abraçaste-me. Eras o condutor de comboio que me esperava. “desculpa, desculpa mesmo. Mas queria fazer-te uma surpresa. Nestas últimas semanas tenho andado a tentar reservar este comboio só para te dizer uma coisa.
Não estava a entender o que me querias dizer, só conseguia olhar para os teus lindos olhos, só conseguia sentir a batida do teu coração, mesmo à distância.
o que me queres dizer?
Demoraste um pouco a responder, e eu estava tão nervosa, tão ansiosa, mas com medo.
Hesitei durante muito tempo para te dizer isto. Mas a cada dia que passava eu sentia uma coisa que me atormentava da boa maneira, cada vez mais a cabeça, o coração. E tudo isso era por tua causa. A tua presença constante… Sempre senti que me olhavas, que mudavas de atitude quando eu entrava no NOSSO comboio. Sentia tudo. Eu ouvia-te respirar e desejava poder estar ao teu lado como estou agora.
Corei bastante nesse momento, mas queria saber mais, mais, mais! Queria saber se sentias o mesmo que eu.
eu amo-te
meu deus. Nunca pensei que isto chegasse a acontecer, pensei que eras apenas uma ilusão, apenas um rapaz com que… eu sonhava todos os dias. Nunca pensei que tu me dissesses isso, nunca pensei que sentisses o mesmo que eu, nunca pensei que tivesses os mesmos pensamentos que eu. E nunca pensei mesmo que me amasses, tal como eu te amo.


(texto antigo, mas muito sentido*)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

a-mor?


Ninguém é igual a alguém. Ninguém pode dizer que ama mais alguém que outra pessoa se não sabe. Nem nunca irá conseguir saber se é verdade. Não conseguimos exprimir tudo por palavras, é tão difícil conseguir resumir tudo em frases e textos, nunca sabemos se escrevemos da forma certa ou se usamos o termo adequado. Descrever o amor em livros? Nem os poetas de antigamente conseguiriam fazê-lo correctamente. O livro que mais correctamente descreve os sentimentos é o nosso coração, e por vezes nem é ele, achamos que é, mas quem fala é a nossa cabeça, sem sentir, sem saber. Mas existem tantos casos de amor ao longo do mundo. A nossa vida resume-se a isso: aprender a amar, saber amar, amar, ser amado. Como acham que existimos? Graças ao amor. Fomos criados à base do amor. Em todo o mundo existem infinitos casos de amor. Nem todos são como queremos, e outros são perfeitos.
Conheço uma pessoa que começou a amar um adulto enquanto era criança, e que agora está casada com essa pessoa que amou e tem uma filha; conheço quem ame e perca essa pessoa, mas não é um perder como quando o namorado acaba contigo, é perder para sempre, perder mesmo, sem volta a dar; conheço quem ame e seja deixada, mas continue a amar, e que tenha tido nova oportunidade mas que tudo tenha sido em vão e que agora continue a amar mas que tenha sido deixada de parte; conheço quem ame várias pessoas até encontrar o seu amor verdadeiro; há quem ame e espere, mas que morra a esperar. Nem tudo é tão justo como gostássemos que fosse. Nem tudo é da forma que achamos que devia ser. A vida às vezes gira ao contrário do movimento de rotação da terra, e nós andamos de cabeça ao contrário a respirar dióxido de carbono. Há ainda quem não saiba o que é amar. Há quem nunca saberá, e há quem pense que sabe. Ninguém pode ensinar a amar, apenas temos de aprendê-lo naturalmente, sem empurrões desnecessários e sem pernas que nos façam cair a meio desse caminho tropeço. Não sei explicar o que é amar, mas sei que é falar sem legendas, entregar a vida apenas querendo a vida do outro em troca. Uma verdadeira história de amor é aquela para sempre, não a de passagem. Não amamos como quem anda de comboio, em todas as paragens deve parar para saírem e entrarem pessoas. Não trocamos bilhetes para experimentarmos outros amores de outras pessoas. Amamos para sermos felizes e para ficar, e deixar-se caminhar nessa longa beira-mar que se chama ‘a vida baseada no outro alguém’.
(e que mais? estou feliz*)

domingo, 13 de setembro de 2009

dream.


Não sei, não me lembro bem. Sei que antes não éramos os melhores um com o outro, tenho essa sensação, mas sem certezas. Só me lembro de sentir frio, de aconchegar a minha pequenina menina no meu casaco e de sentir o teu braço na minha anca, a empurrares-me para ti para me aquecer. Foi só assim, simples, e inesquecível. Uma imagem que não me sai da cabeça apesar de ser apenas imaginação, fruto dos meus sonhos. Eras simples. Não me lembro de como era a tua cara, mas eras perfeito. Em silêncio fizeste algo que necessitava. Em silêncio fizeste-me achar que tudo aquilo era o que eu desejava, tudo o que precisava para me sentir realmente feliz. Foste a chave no meio dos meus sonhos perdidos pelos dias. Mas és uma ilusão, e não se vive de ilusões. Apenas te deixo no rasto da memória, meu querido e terno amigo. Não te dou importância a mais, mas não sei como avaliar o meu sonho. Sei que é tudo o que quero, mas será que terei em breve? Ou será apenas a carência a falar por mim? Se esta noite me deres a mão outra vez, jura-me que sempre ma darás dessa maneira noutro corpo, jura, jura que ficas junto a mim. Não quero que prometas, as promessas, essas, não são inquebráveis. As juras sim, são inquebráveis. Jura-me tudo isso, que eu juro que te amarei dessa forma que tanto quero, sejas tu quem fores. Amar em silêncio, ser amado em sonhos. Ter esse carinho tão distante, tão vazio. Sei que em segredo toda a gente tem este tipo de sonhos, mas não quer revelar com a vergonha de ter-se sentido bem num sonho. Mas é uma coisa normal. Sonhos, somos nós próprios que os fazemos, com os nossos desejos e medos. Quero sonhar outra vez contigo, mero desconhecido. Quero a tua mão junto da minha. Vagueio por caminhos incertos, chuto pedras e magoo os pés, deixo migalhas pelo caminho no meio dos sonhos para conseguir voltar para casa, deitar-me na cama e chorar. Chorar porque tudo o que agora fazia parte de mim eram sonhos e não podiam ser tornados algo de carne de osso. Chorar pelas oportunidades não aparecerem. Chorar por querer algo mais profundo, e não fútil como tenho vindo a ter. Chorar porque faz parte, porque faz bem lavar a cara em lágrimas. Salto de liana em liana na selva da minha imaginação à espera de te encontrar mais uma vez entre uns dos arbustos, em cima dum tigre, dentro de uma gruta. Caminho entre as nuvens dos meus pensamentos nocturnos à espera de te ver nas asas de um anjo ou até mesmo a tocar uma harpa. E, na realidade, caminho entre multidões à espera de te encontrar sentado numa cadeira, a conversar com alguém, num sítio escondido a chorar. Apenas quero encontrar-te, porque para já, repito, és uma ilusão.

domingo, 6 de setembro de 2009

feel the climb




Abri a porta do armário e olhei para a minha roupa. É nestes momentos que achamos que andamos a precisar mesmo de ir às compras. Lá fora o céu estava cinzento e a temperatura estava baixa, e daí a momentos começaria a chover. Vesti uma camisola cinzenta de lã para combinar com o tempo, e vesti umas calças de ganga. A simplicidade sempre foi algo que me agradou. Já estava atrasada por isso peguei na maçã mais vermelha que tinha na fruteira, vesti o meu casaco preto comprido e saí de casa. Cá fora não se ouviam pássaros, e as folhas que estavam caídas no passeio estavam cheias de orvalho. Não me apetecia correr, por isso estava decidido que ia mesmo chegar atrasada ao trabalho outra vez, ultimamente tem sido sempre assim: durante a noite não consigo dormir, por isso ponho-me a ler até muito tarde, e de manhã tenho de me levantar cedo, mas adormeço sempre. Não me preocupo muito com isso, pois assim tenho muito mais que fazer no trabalho e não necessito de pensar noutras coisas em que não devo pensar, não preciso de pensar na minha vida. Estava vento, e o meu cabelo voava para as minhas costas sempre que eu tentava colocá-lo na minha frente. Apertei-me contra o casaco e continuei o meu caminho. Ouvia o relógio da igreja avisar-me de que já era tarde e que eu me deveria despachar. Já estava perto, portanto não me ia preocupar com o tempo. Ninguém me diria nada, eu apenas queria paz. Quando entrei pela porta dentro da empresa, dei conta que ninguém tinha reparado na minha ausência, nem na minha chegada. Abri a porta do meu escritório, despi o casaco e instalei-me cuidadosamente na minha cadeira. Nada poderia mudar aquele dia tão igual aos outros. Por momentos desejei que a minha vida mudasse um pouco, mas essa ideia tão depressa surgiu como desapareceu. A minha vida era aquela, como poderia eu mudá-la com o meu simples pensamento de jovem? Comecei o meu trabalho, e o dia continuou a correr.
Quando dei conta, as horas tinham passado como se estivessem num corta-mato contra as minhas tarefas, e parece que venceram a corrida. Era já noite, e eu tinha de ir embora. Parece que não estava tão capaz de acabar o trabalho a horas quanto pensava, pensei para mim “estou mesmo a precisar de dormir”. Saí do edifício a correr como se algo de muito mau tivesse acontecido. Estava escuro. Comecei o meu caminho, e senti um enorme arrepio pela coluna acima, tinha-me esquecido do casaco no escritório, mas também agora não ia voltar atrás para o ir buscar, teria de aguentar até chegar a casa. Caminhei com os braços entrelaçados ao meu corpo, estava a congelar. Senti uma leve pinga no nariz, e do nada apareceram milhares de pontinhos à minha frente, começara a chover rapidamente e eu não tinha nada que me pudesse abrigar comigo. Mas eu não me importei, adoro ter a roupa encharcada, apesar de depois ficar constipada e as coisas se agravarem, mas isso é outra coisa. Na verdade, eu amo quando chove. Estava desejosa de chegar a casa e sentar-me na janela a ler a minha mais recente aquisição “Juntos ao luar” ao som da chuva, é tão bom. O frio começara a tornar-se insuportável, mas eu não dei valor a isso, tinha o coração quente, mas vazio. Sempre tivera essa sensação, mas nunca lhe ligara muito. Sempre vivi assim. Ouvi barulhos, e acho que até dei um pulo, mas não tenho bem a certeza. Começou a trovejar, não tenho medo, mas não sou nenhuma admiradora de trovões e raios. Corri, corri, corri. Corri até encontrar um abrigo. Sentei-me num banco de jardim que estava coberto por uma árvore. Comecei a pensar que tudo isto não fazia sentido, que tinha de mudar realmente a minha rotina, isto começava a tornar-se desconfortável. Senti uma mão no meu ombro: “Menina, quer que lhe empreste o meu guarda-chuva para voltar a casa?” era um senhor que já tinha visto, mas que nunca tinha realmente reparado nele. Tinha olhos em tons de castanho claro e verde, a sua pele era clara e tinha a barba por fazer. O seu sorriso acentuou-se quando me virei para ele. “Muito obrigado, mas eu não me importo de ficar à espera que a chuva passe, não há-de demorar” bom, normalmente nunca aceito ajuda de estranhos. “Aceite. Eu levo-a a casa”. Acabei por aceitar. Caminhámos lado a lado, sem uma fala, sem um olhar. Ele deixou-me à porta de casa e não disse mais nada. Entrei dentro de casa e fui directa à casa de banho. Enchi a banheira de água e espuma, tirei a roupa e mergulhei nela. Fiquei a olhar lá para fora até adormecer. Sabia que a minha vida iria mudar, e que a tempestade tinha passado.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

(?)


Sentei-me na berma da janela e olhei o mar. A maré aproximava-se e a areia estava quase toda tapada pelo deus marítimo. Senti-me só mas na realidade não estava sozinha, o mar e os pássaros eram a minha grande companhia naquele momento. A brisa fazia com que o meu cabelo voasse e o cheiro fazia-me sentir pura e feliz. Embora não houvessem pessoas nas redondezas eu sabia que não demorava até ouvir passos e conversas de vizinhos. A rotina recomeça cada dia, e já era muito tarde para eu conseguir ouvir alguém. Não queria sair dali até um novo dia recomeçar, pois eu só tinha um motivo nos meus pensamentos e o dia seguinte seria a mesma coisa. O motivo eras realmente tu, quero-te aqui comigo e não te posso ter. Imaginava-me a chorar por não te ter e ao fundo da rua ver o teu lindo sorriso, os teus olhos perfeitos, a tua silhueta espantosa e a tua voz que eu reconheceria a kilómetros de distância. Via-te correr para mim e abraçar-me, dar-me beijos nas partes da minha face que estavam percorridas de lágrimas e dizeres-me que nunca me deixarias sozinha nem abandonada no meio da estrada. Escreveria mil e uma história sobre a nossa história, escreveria os meus pensamentos aperfeiçoando a realidade para pensares que realmente tudo era perfeito, faria tudo por ti, apenas para te voltar a ter aqui. Quero voltar a tocar-te no cabelo e delinear a tua face. Quero tanto tudo de volta…
À umas noites atrás sonhei contigo, toda a noite, desde que adormeci até acordar de manhã cedo. De manhã sentia-me aterdoada pelo que vi, pelo que senti mesmo estando a dormir. Era tudo perfeito, tal como eu gostaria que continuasse a ser, neste presente que agora está numa linha recta. Ontem vi uma pessoa com o seu irmão ao colo, a abraçá-lo e acarinhá-lo como se fosse a sua vida, e como se nunca se fosse separar dele. Gostava de poder ter alguém assim a meu lado, ter um caso ternurento e com vida. Ter a perfeição de mãos dadas às minhas.
Fiquei com alguém na cabeça que me relembrava de ti, vi-o algumas vezes e havia tempos em que não me saia da cabeça, em que não queria deixar o meu pensamento, mas eram apenas visões, não podiam ser tornadas realidades porque a pouca distância que existia entre nós não era possível para estabelecer uma relação, estava perto mas estava também muito longe. Sabia que já me tinha visto e reparado em mim, mas não sabia se teria tido a mesma sensação que eu pois pode não ter passado o mesmo que passei contigo com uma pessoa que eu lhe fazia lembrar. São tudo coisas da minha cabeça, tudo sonhos, apenas isso. Agora sei que nunca mais o vou ver, mas também sei que agora já não te amo como te amava. As coisas têm sempre a sua altura de mudar, têm sempre os seus ventos que levam o que passou, vendavais e em seguida sol, muito sol, para dar as boas-vindas a novos sentimentos.
Deixei cair as minhas armas, mas a batalha está quase vencida pois os meus soldados ainda não desistiram.