terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Be someone else



                Tenho um enorme poder para me apaixonar por histórias que não são minhas, por momentos que não são meus. Uma certa tendência para olhar o par da personagem principal com os olhos da sua amada – viver aquela história como se fizesse parte dela. É por isso que digo que me apaixono todos os dias. Não por pessoas, não por coisas… Apaixono-me por histórias. Por personagens inexistentes que me preenchem os dias e que, por algumas horas, me permitem levitar até ao que muitos chamam de “reino encantado”. O meu coração sente-se tão cheio quando eu me envolvo em histórias felizes... Aí é que consigo verdadeiramente, mesmo que por breves tempos, ser feliz, porque finalmente existem outras pessoas que não eu a manobrar o rumo da vida. Isto porque, quando sou eu, a direção que ela toma nunca me agrada, como se eu não tivesse qualquer controlo no que quero ou não fazer.
                Viver no corpo de outra pessoa, ainda que tenha de encarar a realidade de seguida, faz-me abstrair do que se passa. Amar o mundo, os momentos, as pequenas coisas da mesma maneira que outra pessoa o faz, permite-me sentir viva e apreciar o que a vida a mim, como pessoa que sou, filha de meus pais e neta de meus avós, não me deu. É por isso que tantas e tantas vezes prefiro passar um bom tempo envolta num outro mundo ao qual não pertenço do que viver o que está lá fora; questionando-me ainda, no meu íntimo, porque é que a minha vida não corre assim. Estar na pele da outra pessoa, sentir da mesma maneira que ela, permite-me ver o mundo em várias perspetivas, sentir tudo e nada.
                Mas apesar de tudo, fico triste. Isto porque não me vejo capaz de encarar a luz do dia sem ter uma tamanha vontade de voltar a saltar para dentro da ficção, onde tudo – apesar de não o ser – parece melhor. Ser uma super-heroína, ou então simplesmente amar muito o meu cão; ser uma verdadeira escritora, ou apenas uma mãe preocupada; amar e ser amada, ser filha do presidente dos EUA, ter barbatanas e ser chamada de “Ariel”, falar a língua dos animais, ser uma vampira, viver no País das Maravilhas, viver numa mansão com vista para o mar, ou… ser eu. Se pensar bem, a minha vida é também um filme. Um pouco melancólico e rotineiro, mas é. Se fosse transformado realmente num, se calhar no intervalo as pessoas optariam por ir embora, cansadas de ver uma entusiasta apaixonada que nada mais sabe fazer do que dar “passos à caranguejo” nos seus dias. Talvez ficassem, mas adormecessem antes de verem o final – se alguma vez existisse um final que fosse digno de ser chamado disso mesmo (deixando de parte que há-de existir um dia que simplesmente deixo de respirar). Ou talvez até gostassem e escrevessem umas críticas positivas no seu blogue por ser um filme que retrata tal qual a vida de uma adolescente que deseja ir mais além mas, simplesmente, não sabe como fazê-lo. Alguém que deseja ser outrem ou, simplesmente, quer dar um passo e frente e não tem força para o fazer, não tem impulso. Ou alguém que quer simplesmente que lhe dêem a mão e não a larguem logo de seguida.
                Ser adolescente nos dias que correm tem dias complicados, e apercebo-me disso quando a minha mãe pensa que vou conhecer alguém se me limitar a dançar com essa pessoa. Acho que ela não compreende que vai muito para além disso. Eu vou muito para além disso. Quero uma história. Um início, um meio, contratempos, reviravoltas e, finalmente, um fim. Pode ser uma série, ou pode ser uma vida de um único episódio… Mas quero que faça sentido e, ultimamente, nada a mim me faz sentido. Quem sou eu, o que quero, porque faço o que faço, porque sinto o que sinto. Uma panóplia de perguntas que me surgem no cérebro mas às quais, parece-me, ainda não estou apta a responder. Acho que é melhor ir comprar o bilhete para a primeira fila e, simplesmente, esperar pelo “Fim”.