domingo, 27 de março de 2011

o que deixaste

Enquanto tinha os olhos prestes a fechar, vi-te. Não queria sonhar contigo outra vez, não. Sabia que sempre que tentava não pensar em ti antes de dormir, era como dito e feito. Assolavas-me o sono de tal forma que eu acordava com a colcha toda enrolada em mim de tanto me mexer, os lençóis estavam espalhados pelo chão de quarto e eu tremia. A almofada estava encharcada e os meus olhos inchados, cheios de olheiras. Talvez também tivesse gritado por ti, pelo teu nome...
Toda a gente consegue, mas eu nunca fui capaz de controlar os meus sonhos. Talvez tu tivesses um poder qualquer e fizesses o que te apetecesse na minha mente.

Tinha um vestido amarelo com o qual a minha mãe me vestia quando eu era criança, o cabelo comprido esvoaçava ao sabor do vento nortenho enquanto eu corria por aqueles campos de trigo que me pareciam não ter o fim. O teu perfume entrava-me pelas narinas de uma forma sedutora, tirando-me toda a sanidade mental e fazendo-me procurar-te. Às vezes, nem sequer tinha noção de que aquilo era um sonho. Não te via em lado nenhum durante maior parte do tempo, mas estava sempre a movimentar-me. De quando em quando, encontrava um espelho. O meu reflexo era estranho: os meus olhos não tinham o que chamamos de menina-do-olho e, contando com o meu tom de pele branco, eu parecia um autêntico fantasma. Passava muito tempo a mirar-me a mim própria e, por breves segundos, via-te junto de mim. Colocavas a mão no meu ombro e sorrias-me. Depois, quando me virava para te poder abraçar, tu já lá não estavas. E nisto, voltava a desatar a correr, com as lágrimas a escorrerem-me das faces e a formarem lagos onde caíam.
Os sonhos eram repetitivos e desgastantes. Os calmantes não solucionavam este meu problema e eu precisava realmente de dormir, descansadamente. Mas não dava. Tirei todas as nossas fotografias no quarto, queimei todas as cartas, com medo que estivessem amaldiçoadas e me fizessem ter este noite-a-noite. E mesmo assim, continuava tudo na mesma.
Não te vejo há anos e continuas a fazer-me estas coisas. Se me estás a ouvir, pára. Ou faz o que faz isto parar. Queres ver-me entrar no mundo da loucura? É que se entro, a primeira coisa que faço, é ir ter contigo e vingar-me. E a vingança, essa tão querida amiga, serve-se fria. Não gosto de frases feitas, farto-me de dizer, mas é a mais pura das verdades. E eu já a devia ter preparado faz tempo. A verdade é que te amo, mas desde que deixaste o que fomos para trás eu nunca mais consegui olhar para a tua cara de anjo. Foste-te embora, não me disseste adeus, não me deste um abraço, e deixaste-me no colo este nada que me destrói os neurónios pouco a pouco. Prepara-te.

domingo, 20 de março de 2011

nada


Vou caminhando a passos de bebé pela rua. Sinto-me uma sem destino. Não sei quem sou. Vou passando por casas, lojas, e vejo carros a passar na estrada. Ouço vozes mas não percebo o que dizem. Há algo dentro de mim que me puxa sempre em frente, mas sei que não vou a nenhum lado em concreto. É uma corda invisível, uma força inabalável que me move o corpo. Não sei o que se passa no meu interior; um furacão de sentimentos mói-o e tira-lhe a vontade de pensar e de ser ele próprio. O que se passa comigo, só Deus saberá.
Estes passos desengonçados, tempo a tempo, vão-me levando até à praia. Quando chego lá, descalço os pés e a areia - oh, há quanto tempo não a sentia! - faz desanuviar as dores que sinto no meu coração. O céu já escurecia e o mar subia pelo areal. Sentei-me perto dele, onde as pontas dos meus pés podiam tocar a água salgada. Tinha frio, mas nem sequer sabia onde era a minha casa - mas eu tenho ou tive alguma? não relembro o ontem, sequer. Subi os joelhos e encostei neles a cabeça. Fechei os olhos e fiz um esforço, mas a vontade do meu cérebro não correspondia com a minha. Levantei a cabeça e olhei o horizonte. O sol já se tinha posto, e isso fez-me sorrir, como se o final do dia me desse a entender o fim destas sensações horríveis e exasperantes. Eu parecia-me a mim própria muito calma, quando só me apetecia gritar «o que é isto?», quando só me apetecia rasgar-me a mim própria a meio e arrancar as entranhas para poder deixar de sofrer. Nem sequer sabia se tinha motivos para isso. Simplesmente, estava a zeros.
Quando a água já me cobria os pés, levantei-me a inspirei o ar salgado que pairava à minha volta. Passei a mão no cabelo (que estava nojento, pensei) e de seguida coloquei-a no bolso. Deixei-me ficar por ali... Sabia já estar gripada e muito, muito fraca mas, quando apenas ouvia o barulho do mar e a escuridão me assombrava os olhos, fraquejei. Caí de joelhos e desatei a gritar. Gritei com tudo o que tinha e não tinha. Depois, quando a voz me falhou, deitei-me até encharcar toda a roupa. Aí, decidi uma coisa: ia ficar ali. E depois, talvez, as dores me passassem. Talvez eu me lembrasse porque vim aqui parar, porque não sei quem sou, porque não tenho vontade de viver e porque não sei definir como me sinto.
Quando a dormência me começou a tomar conta do estado de espírito e a minha alma começou a congelar, eu sabia que Ele já estava a tomar conta de mim. Sabia já ter uma casa, o meu lar, onde, quando lá chegasse, encontraria uma cama fresca e apetecível com lençóis lavados.
Mas no fim, quando já não me sentia por completo, soube de passagem, como se uma ventania me tivesse dado um estalo de cada lado da cara, que o porquê de eu ter um vazio no lugar do meu órgão pensador era porque ninguém neste mundo gostava de mim. Por isso, não soube mais nada. Absolutamente nada.

sábado, 12 de março de 2011

pedaços de mim são pedaços de ti

Existem pessoas que sabemos que irão para sempre permanecer no nosso círculo do interior. Que, incondicionalmente, vão estar de mão dada à nossa mesmo sem a conseguirmos ver corporalmente, que vão estar a apoiar-nos e do nosso lado quando sentimos o mundo a derreter-se sobre as nossas próprias mãos. São essas pessoas que devemos conservar e que, acima de tudo, devemos cuidar bem. Os mimos: palavras bonitas que nos vêm do nada mesmo que estejamos a falar de coisas sérias, os carinhos, os ternos olhares. Todas essas coisas são indispensáveis a uma relação - seja amorosa, seja de amizade - mais estável que um muro feito de tijolo. Amamos essas pessoas mais que tudo na vida e sabemos que não nos devemos preocupar com o que dizer, porque teremos um tempo infinito nas nossas vidas para podermos falar. Podem ser coisas desinteressantes e sem sentido, mas que fazem dar um bom pé de conversa sem acabarmos por achar chato e termos vontade de ir dormir. Queremos sempre desenrolar, subir para outros assuntos, e nunca mas nunca pararmos. Quando temos uma pessoa assim, vemo-la sempre como a mais querida, a mais especial, a que está sempre ali, da qual nunca nos vamos separar, com a qual estaríamos abraçados para todo o sempre, a que nos ouve, a que nos beija, a que nos sussurra ao ouvido, a que nos diz que está tudo bem, a que não nos quer magoar nunca, a que faz tudo por nós, a que nos ama. E todas estas coisas são recíprocas.
Consideramos que é com essas pessoas que temos as melhores frases, os melhores momentos, com as quais aprendemos mais coisas e, por isso, afeiçoamo-nos a elas por completo. E é isso tudo que vejo em ti. A fraternidade entre nós é tão profunda que era capaz de corroer todo o nosso corpo numa ínfima tentativa de se desfazer - uma impossibilidade. Considero-te meu irmão, meu companheiro de batalha. E isto que temos um com o outro, esta amizade estrondosa e gloriosa, é inevitável e incompreensível para muitos. Mas eu e tu percebemo-la, e é isso que interessa. Os que estão de fora que fiquem com as suas suposições, com os seus pensei que. Não me importo. Toda a gente sabe o quanto és importante para mim! E por isso, por mais coisas que aconteçam e não aconteçam, eu vou estar aqui, do teu lado. Vou estar de todas as formas e sentidos que anteriormente referi. O laço que nos une é especial e raro. Não se compra na loja da esquina e muito menos é possível encomendá-lo de outro país. A unicidade dele é que fá-lo ser o que é.
Nem mesmo o atlântico é capaz de nos separar, de nos apagar a história que há tanto tempo é escrita nessas páginas intermináveis do livro que está sempre debaixo da nossa cama. As saudades, essas coisas malditas, são muitas. E às vezes há dias que o que mais queria era o aconchego do teu abraço, e não o posso ter. Há dias que só me apetecia correr para ti e poder-te contar tudo o que vai de mal na minha vida, para que pudesses me ajudar a curar as feridas que se vão abrindo no meu coração com a ajuda da tua voz. Mas nós não temos nada disso, e ficamo-nos por palavras. E isso, para já, tem que nos bastar. Não há-de faltar muito para que voltes, melhor amigo.
E eu vou estar sempre no porto do qual desembarcas-te naquele dia tão obscuro e negro para nós dois, o teu dia de partida.
as lágrimas emolduram-me o rosto

quarta-feira, 9 de março de 2011

para ti

Minha vida,
Por onde andas a estas horas? Já não sei de ti faz anos. Teimam em dizer-me que já não estás neste mundo, que foste engolido por uma dessas tantas batalhas que se têm visto nos jornais e ouvido nas rádios, mas eu não acredito nisso. Não eras Homem de ser alvejado por uma espingarda rude e sem vida, não eras Homem de cair com o peito sobre a sua própria espada, de se deixar derrotar por um duelo de espadachim. Sempre te vi como um cavaleiro de alta costura, sempre de punho cerrado e pronto para qualquer que fosse o mínimo aviso de guerra. Mas eu sempre tive a certeza que, fosse de que lado fosse, quem estivesse contigo ganhava. Dúvida nunca foi algo que fizesse parte do teu dia-a-dia. Eras de decisões sérias, nunca olhaste para trás e sempre soubeste que direcção seguir. Eras e és um Homem de poder, nunca esquecido, nunca tapado pelo pó.
De minha parte, sabes sempre que serei o teu poço de recordações. Fazes parte da minha vida desde que sou criança e me prometeram a minha mão ao teu coração. Sempre te vi como um irmão mais velho, mas quando atingi a adolescência deparei-me com um sentimento até então desconhecido: sempre que ouvia o cavalgar do teu cavalo por entre a quinta do meu pai desejava que entrasses de rompante por entre as portas do meu quarto e me viesses buscar para ir contigo. Queria que estivesses sempre comigo para me poderes salvar nem que fosse de um mosquito.
Num dia temos o nosso casamento planeado, as alianças escolhidas, o vestido já no armário, as promessas feitas. E no outro deixas-me plantada no altar, qual planta esquecida no meio do jardim. Oh, como te amo. Como desespero pela tua chegada. Mas já passou o triplo de 365 dias e nunca mais cá voltaste. Fazem-me também crer que te deixaste levar pelas palavras melódicas de uma sereia qualquer que pelo cabo estivesse estendida a atirar o seu anzol. Mas eu conhecia-te bem. Sempre soube que não acreditavas nessas profecias e que, mesmo que a loucura te desse conta do juízo, apenas tinhas olhos para mim, incondicionalmente.
Não quero continuar a minha vida sem ti. Se sou tua para sempre, porquê desistir de saber por onde andas? O teu corpo há-de estar algures. Tu há-des estar algures. Não entendo porque não voltas para os braços da tua amada, para o seu coração que já abarrota de carinho e calor.
Mas sempre aprendi a ter esperanças, e essas, tão grandes e tão perversas, já tomaram conta de mim desde que me vi sozinha nesta casa. Tão vazia, tão cheia de nada; e é por isso que sei que vais voltar. Talvez em espírito, talvez em carne. Mas para mim, voltas sempre.
Os corações que estão destinados a viver juntos um do outro podem ser desviados no caminho, mas nunca, em circunstância alguma, acabam separados. Podem fazer curvas e entre-curvas, mas o destino é sempre o mesmo: o berço um do outro.
Com amor,
a tua e para sempre tua noiva.

terça-feira, 8 de março de 2011

impossible

Desde a noite passada que nada do que é teu me sai da cabeça. A tua voz - tão masculina, tão forte, mas tão doce, tão poderosa, tão harmoniosa - percorre-me os ouvidos a cada segundo: arrepia-me, deixa-me os pêlos dos braços e das pernas eriçados. Dá-me vontade de dançar ao som dela, de fechar os olhos e abstrair-me de tudo só para a ouvir. Faz-me sentir atraída, dominada por ti... Como se ela tivesse feito um laço à minha volta e me puxasse para ti, cada vez mais.
Os teus olhos estão ainda colados aos meus, como se neste preciso momento continuasses a olhar para mim e a seduzir-me apenas assim, como ontem fizeste.
Era capaz de estar perto de ti como quanto estive o resto da minha vida. Tocar nos teus ombros e descer até aos braços. Tocar-te no peito e descer até aos abdominais. Colar os meus lábios nos teus e esquecer tudo. Concentrar-me na tua presença - o que não era difícil (difícil era concentrar-me em não pensar em ti, agora que estavas longe outra vez).
És um Deus Grego, completamente. Uma vida, uma paixão desesperante e avassaladora. És como tocar no horizonte, impossível, mas que apetece tanto.
E é por isso que não me esqueço destes sonhos que me assaltam a sensatez e me deixam à deriva, que me abandonam a pensar no possível mas imaginável.

As tuas palavras formam frases em tons melodiosos que me eternizam o bem estar do coração. Fazem-me voar por entre as nuvens e chegar até à Lua; faz de conta que me dão a mão cuidadosamente e me convidam a ir ver as estrelas - que são imagens tuas, tão maravilhosas que me sorriem a toda a hora - e a ser feliz.

sábado, 5 de março de 2011

sei-te de cor

Depois de todo este tempo, sempre que passas por mim ainda me arrancas um suspiro. Ainda assim, minto! São vários. É difícil tirar os olhos de ti. Sabes bem que seguir-te com o olhar foi das coisas que sempre mais gostei de fazer, e ainda fazes de propósito ao passar perto de mim para que eu possa sentir-te o perfume e aperceber-me da tua presença. Mesmo que esteja a meio de uma conversa, a meio de uma frase, ou até a meio de uma palavra, quando te pressinto tudo pára, o mundo pára, ou melhor: o meu mundo pára para te ver.
Sei-te de cor
. Gostas de levantar a sobrancelha esquerda quando sorris para mim, enquanto caminhas com mais pressa as tuas mãos balouçam do teu lado; tens um tique: de repente, em milésimos de segundo, viras a tua cabeça para a esquerda para ajeitar o cabelo, e ao mesmo tempo que o fazes, piscas o teu olho esquerdo. Adoro quando fazes isso. Tenho essa imagem como algo repetitivo na minha cabeça quando o meu mundo passa a ser a Lua.
Depois, quando me desapareces da vista, já ouço pessoas a gritarem pelo meu nome, a pedirem-me a atenção, e a acharem que naqueles breves segundos em que passaste por mim, me deu alguma coisa e eu simplesmente deixei de falar.
Aproveito todos os meros momentos em que consigo sugar a tua presença para dentro de mim. É como se conseguisse tocar-te, enrolar-te em mim. Como se fosses novamente meu. Talvez um dia o passado volte, talvez um dia nós ultrapassemos os simples sorrisos aos quais não me consigo habituar desde que és tudo para mim. E é disso que tenho receio. De não me habituar ao que deve ser o bastante para seguir em frente, ser feliz, ser novamente a pessoa que era antes de te conhecer. Querer sempre mais não é bom, não é uma qualidade. Em certas situações, pode tornar-se um defeito, uma obsessão. E o que quero de ti é amor, muito amor. Todo o amor possível e imaginável. Quero-te a ti, ao que fomos, ao que não somos, e ao que (se calhar) não seremos. E viver assim, nesta corda bamba terrível, deixa-me frustrada, com vontade de morrer.

quinta-feira, 3 de março de 2011

20 days of music - 8th day

A música que te faz dançar.


mama monster.