sábado, 22 de novembro de 2014

Sailor



               

                Já não te vejo há semanas. Antes de dormir, a tua imagem percorre-me a mente como se estivesse a correr a maratona e o efeito dela no meu corpo cansa-me mais do que se fosse eu própria a correr a maratona. Calafrios deixam-me os poros irritados desde os dedos dos pés até aos dedos das mãos. Fecho os olhos com mais força e aperto os punhos, na esperança de conseguir pontapear-te dos meus pensamentos: não resulta. Por mais que me tente concentrar em tudo menos em ti, é sempre para os teus braços que corro; até em sonhos.
                Partiste e, desde então, não tenho notícias tuas. Mesmo te conhecendo tão bem como conheço a marca que os teus lábios me deixam na testa quando a beijas, tenho receio que não voltes o mesmo. Dizem que a vida no mar muda as pessoas. Que os tempos sem as suas amantes, mesmo levando a fotografia para a cabeceira e o sentimento rasgado no peito, lhes esmaga a paixão pela vida e lhes enfraquece o coração. Lembro-me de ti sempre forte, com uma incapacidade de transparecer sentimentos que me fazia querer puxar ainda mais por ti e dar-te todo o amor que merecias e não merecias, mas mesmo assim tenho medo. Já devias ter voltado faz dias. Tento não trazer a tua memória sempre na algibeira mas o amor no coração. Mas não quero pensar nele porque o amor dói. E se não voltares, o amor vai doer ainda mais porque não vais estar cá para o compartilhar comigo. Tenho constantes pesadelos em que és encantado por sereias com a cor dos meus olhos e de cabelos iguais ao meu; depois de te lançarem o feitiço, agarram-se ao teu pescoço e afundas-te com elas… Até te esqueceres dos teus, de mim, e da vida.
                Todos os dias anseio que consigas, utilizando o telescópio, ver o farol. Imagino e ao mesmo tempo consigo sentir a tua emoção ao ver aquela pequena luz ao fundo do túnel de cheiro salgado, e a nascer-te uma esperança no ente. Rezo para que ele te ilumine o caminho até mim como tem feito ao longo de todo o tempo em que somos um do outro.
                Volta rápido, meu amor. Estou à tua espera, sempre.