terça-feira, 24 de maio de 2011

«as lágrimas são o sangue da alma»

A vida escorre-me pelos olhos e cai numa folha de papel. Ao tempo que vai, pinga por pinga, torneando um texto do meu próprio eu como se fossem as minhas mãos a desenhar uma história.
Partes de mim que eu desconhecia vão sendo contadas ao mundo sem a minha permissão. Vou percebendo porquês que ecoavam na minha cabeça e as razões são me dadas de bandeja. Outra faceta de mim é-me mostrada, e mal eu sabia da sua existência: é outra pessoa, uma desconhecida em quem me quero tornar por tudo neste mundo. Tem as decisões tomadas, e é a poça de água que me mostra o futuro. Que, além de perfeito, é meu.
Mas há algo no fundo dela, um algo desfocado e pouco perceptível que me pisca nos olhos e tenta chamar-me a atenção. Um aparte que eu não queria saber, a mancha negra na capa de cavaleiro branco. Apunhala-me uma faca no peito e atira-me ao chão, sem um único esforço da minha parte para a deter. O coração parte-se-me no peito por perceber que, depois de tanto esforço, de tanto sofrimento, esse futuro que me parecia tão racional é sem ti. As legendas desta história para mim passam a deixar de fazer sentido e nisto, os meus olhos lacrimejam sangue; porque os papéis foram invertidos e agora quem chora é a minha alma.
E sem ti, não há oxigénio que consiga inspirar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

don't know where I am

O meu peito está vazio. O fôlego engolido pelo turbilhão enviado pelo destino. O palpitar não está em transe... Apenas ficou perdido entre as passagens de vida para vida. Não sinto grande coisa. Ouço um zumbido na orelha direita, inquietante e descontrolado; mas a orelha direita está num silêncio profundo. O resto do meu corpo está numa espécie de dormência. Tento abrir os olhos, mas é como se eles já não existissem. Tento esticar uma perna, mas parece até que ma amputaram. Já não sou eu. Tento trabalhar o cérebro e descobrir onde estive pela última vez, porque me sinto assim, de onde vêem todas as interrogações, mas nem do meu nome me lembro! Existe apenas um nada que na realidade é tudo que me envolve neste momento: medo do que é isto.
Não sei em que estado me encontro, nem sequer se o que estou a viver é verdadeiro ou um mero sonho. Mas nem sequer respiro. A única coisa que faço perfeitamente é raciocinar. Só que isso não me serve de nada
quando nada acontece!
Não aprendi a fazer ginástica ao órgão pensador para poder fazer magia. Só espero que isto...

Os meus olhos abrem-se sem eu fazer qualquer esforço. Os dois ouvidos já funcionam. Ouço um som de uma voz angelical, mas não vejo ninguém. O cenário é um imenso branco que não me desaparece dos olhos. Não acredito que isto seja o Céu,
mas não há saída.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

meu amor

A cada dia que passa tenho ainda mais a certeza de que preciso de ti. Há um espaço vazio na minha alma que apenas condiz com os teus contornos e só se consegue afeiçoar a ti. Os meus braços parecem só conhecer o teu aconchego e, de cada vez que me lembro de que não há dia certo para voltar a ver-te, as minhas muralhas caem em ruínas. Relembro vezes sem conta a última vez que te abracei, e quero ter presente esse momento num cantinho do meu coração até ao final da minha vida. Só me apetecia poder repeti-lo hoje, agora, amanhã e eternamente.
Há pouco tempo li uma frase que se adequa completamente a esta situação: «parece que quanto mais gostamos de uma pessoa, mais longe ela vive». Ao olharmos para a nossa actual situação apercebemo-nos que o antes não era absolutamente nada. Agora sim, isto é grave.

Consideraria a minha vida completamente perfeita se neste momento, na vez de de estar a perder o meu tempo a escrevinhar sobre a minha supérflua vida, estivesse de mãos dadas às tuas, a trocar palavras carinhosas e juras de amor eterno. Só que é praticamente impossível... E não deveria o amor ser capaz de ultrapassar todas as barreiras? É o que dizem os poetas. É verdade que consegue viajar por estradas e mares infinitos, que transmite a sua energia por distâncias inimagináveis e é capaz de se mostrar ao longe. É o que acontece connosco, posso bem dizê-lo.

Só quero que saibas que te vou sempre amar, que tens uns enorme espaço reservado para ti no meu coração e que, por mais pessoas que entrem e saiam da minha vida, a tua estadia nela é permanente.
As circunstâncias não nos são favoráveis, mas quando duas pessoas são como irmãos, nada é capaz de os separar. Absolutamente nada.

E eu tenho firme certeza que tu e eu vamos estar para sempre juntos.

domingo, 1 de maio de 2011

trains

São triliões. Passam de rompante e levantam-me os cabelos ao sabor do vento que trazem consigo. Levam pessoas aos seus destinos e pelos seus próprios caminhos. Quem sabe se na primeira carruagem não vai uma rapariga nervosa, de lágrimas nos olhos, e com os músculos cansados, depois de uma última vez com a sua (pensava ela) alma gémea? E na segunda vai uma mãe, com o seu filho ao lado a dormir profundamente, com rumo a uma nova vida? E na terceira um idoso que quando chegar a casa e se deitar, nunca mais acordará? As pessoas são tantas e todas tão diferentes. Mas ao mesmo tempo tão iguais... Percorrem o mesmo troço, ambas têm um destino, e todas têm uma razão para estarem ali sentadas, naquela hora, naquele dia. Quando faço parte das infinitas multidões que por lá dentro pairam, começo a observá-las. Tento identificar-me, e dar a cada uma a sua própria história. E assim passo o tempo. Às vezes, simplesmente fecho os olhos, e mesmo estando ao lado de um desconhecido, passo esse facto ao lado e deixo-me transformar-me numa mendiga de sonhos. E tem dias em que imagino que o meu destino depois dali sair são os teus braços. E isso faz-me sorrir como uma criancinha. Oh, era tão bom que fosse verdade! Imaginar-te ao fundo com um sorriso de orelha a orelha, o cabelo preto completamente perfeito, o corpo hirto mas ao mesmo tempo irrequieto, com tamanho nervosismo quanto o meu.
Depois, acordo de rompante e dou por mim, dentro do comboio, sem ti ao meu lado. E isso faz-me desfalecer.
E nisto, dou conta de que não consigo viver sem ti.
«A distância das moradias não desune o amor dos corações»