terça-feira, 25 de outubro de 2011

túnel do esquecimento

Um dia tive medo do destino e decidi fugir dele. Corri que nem uma louca contra o vento e em todo o lado por onde passei dei encontrões às pessoas que, por acaso, nem sequer olhavam para mim. Eu era um ser invisível, a brisa que fazia cócegas nas suas orelhas e lhes dava vontade de rir. Não lhes fazia a mínima impressão e tudo o que era meu a eles lhes era exterior.
As ruas que percorri pouco tinham mas muito me diziam: era adornadas por cartazes com a tua cara estampada em cada um deles, de diferentes formas, como fazem com os presos. Isso ainda me deu mais vontade de fugir, porque eu sabia que o meu amanhã eras tu; apeteceu-me rasgar todo aquele papel feito de afectos e lançá-lo para um buraco negro, mas naquele momento eu só conseguia correr, correr, e correr. Para bem longe. Não sabia para onde ia, mas sabia ser longe. Lá queria saber de ti e de quem és! Queria viver o presente e pouco mais. Queria saborear o doce gosto da chuva e tocar os frios raios de Sol - não precisava de mais nada. E agora apareces-me aqui junto de mim, do que é meu e do que não é, e decides fazeres-te à minha vida?
Sem dar por tal entro por um túnel escuro adentro, bato com a cabeça numa parede e perco todos os sentidos. Quando volto a mim: quem sou eu?
A única centelha de memória que me resta é a tua imagem. Um desconhecido que me parece querido e do qual tenho a sensação de ter fugido durante muito, muito tempo. Em que estaria eu a pensar quando as cartas já estavam todas em jogo e não havia mais nada a fazer senão desistir? Que rumo acharia eu que a minha vida iria levar se não a compartilhasse contigo? Não interessa. Dá-me a mão destino, vamos embora - não percamos mais tempo!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

à tua procura

Estou agora envolvida de angústia. Caminho por um trilho de dor decorado com árvores de dúvidas sob o sol da saudade; grito o teu nome e a minha voz ecoa no nada como se tivesse gritado para um altifalante, mas sei que ninguém me ouve. Estou presa nesta bolha de sentimentos contraditórios onde é-me impossível pensar sobre como daqui sair. Só consigo pensar em ti e em como tenho medo que muito entre nós tenha mudado... Só não te quero perder e não me quero também perder de ti.
Onde anda a tua alma vagabunda quando a procuro nos meus sonhos? Porque teima ela em brincar comigo às escondidas quanto não tenho o mínimo estado de espírito para tal? Exausta do meu viver, sento-me no meio da floresta, onde gotas de chuva me escorrem pelos cabelos, e abro um álbum de fotografias que me aparece à frente como que por magia; logo ao ver a primeira imagem a nostalgia invade todo o meu ser: tu e eu de mãos dadas. Mas enquanto eu vangloriava o pôr-do-sol, tu olhavas-me com ar deliciado, e sei que algures nos teus pensamentos, o que mais gostavas na tua vida era o facto de eu ser tua. Continuo a sê-lo, por isso volta para mim.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1 ano

Faz hoje exactamente um ano desde que mal dormi e no tempo todo em que acompanhei as tuas últimas horas nesta terra, todo o oceano atlântico que nos separa me escorreu pelas faces. O mundo decidiu deixar as nossas vidas de pernas para o ar quando traçou o nosso destino com um horizonte igual, mas visto de diferentes lugares. Tudo o que mais queria naquelas longas horas era abrir os olhos e ter certezas de que aquilo não tinha passado de um pesadelo: fruto do meu subconsciente duvidoso que teimava em tirar-te da minha vida - mas o grande problema é que não era, era a crua, pura e dura realidade. Tu ias-te embora e não tinhas data de regresso, e esse facto massacrava a minha alma sem pudor. Eu não te queria perder, eras e és o meu pilar, a fonte de onde retiro a minha vontade de viver; em poucas semanas tudo mudou. O que mais receávamos aconteceu, e nós não tínhamos como dar a volta por trás: o destino, de mãos dadas aos nossos medos, qual namorados mais do que apaixonados, ganhou-nos a corrida e levou-te para longe daqui. Mas não para longe do coração...
Não há um dia que não pense em ti, um único mesmo. Sempre te considerei o meu cavaleiro salvador, sempre pensei em ti enquanto escrevia praticamente todos os meus textos... A tua alma, quer quiséssemos, quer não, estaria sempre abraçada à minha, numa só. És meu irmão; não de sangue, mas de vida. O mundo sempre colocou umas pequenas pedras no nosso caminho, mas nós facilmente lhes dávamos um leve pontapé e elas iam para bem longe, como se nunca se tivessem atravessado à nossa frente.
E ao fim deste tempo todo que passei sem te tocar, sabes o que digo? Que Ele ainda se há-de arrepender do que nos fez e voltará a cruzar os nossos caminhos - quem não se apercebe da nossa união é cego, sendo que ela é capaz de iluminar a mais escura das ruas. Eu sei que vais voltar, meu amor. Eu sei. Tenho saudades tuas.
Amo-te melhor amigo de sempre e para sempre!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

brain > heart

Hoje não me apetece ficar em casa a comer gelado e a ver filmes deprimentes por nada deste mundo e, por isso, depois de muito pouca deliberação decido-me a despir a camisa de noite e vestir uma camisa e uns jeans. A noite está fresca e logo que saí porta fora arrepiei-me ao ouvir o som dos grilos; caminhei na direcção indicada pelos meus instintos e quanto mais andava, mais tinha de me apertar contra os meus braços para não sentir frio. Fiquei espantada ao ver onde as minhas pernas me tinham trazido e, vagarosamente, descalcei-me e peguei nos chinelos com a mão. Caminhei contra a maresia reconfortante que o mar me lançava qual boas-vindas, e acabei por me sentar de joelhos ao peito perto dele... Já há muito que não fazia passeios e sentia falta disso; a noite dá-nos uma expectativa de perigo, mas a mim faz-me sentir maravilhosa.
Seria normal ver pessoas a passearem à beira-mar ou até ver cães a aproveitarem-se da falta de vigilância nocturna para se deliciarem na sua água salgada, mas esta não me parecia ser uma noite normal, havia demasiado silêncio... Não é que isso me afligisse, mas era extremamente estranho.
O som do mar era como um calmante, e de repente senti as pálpebras levarem a melhor e os meus olhos fecharem-se - foi o meu maior erro. Quando se viram tapados, aproveitaram a oportunidade para me mostrar lembranças há muito esquecidas, dias perfeitos da minha vida que, apesar de tudo, eu preferia esquecer... Mas um momento em particular era sublinhado pelo meu cérebro: uma noite como esta em que um homem me fez sair de casa trazendo-me a esta mesma praia para revelar que se ia embora; mas fazendo-me prometer que nunca me esqueceria que, um dia, ele passou a fazer parte da minha vida. Lembro-me de como se tivesse sido ontem: apesar da pouca luminosidade que vinha dos candeeiros da estrada, os olhos dele estavam mortos de dor e cheios de receio. Não quis saber para onde ele ia, o que ia fazer e nem porque ia - limitei-me a pegar-lhe na mão, colocá-la no lado esquerdo do meu peito, jurar-lhe que nunca o ia esquecer, levantar-me e ir-me embora, enfiar-me debaixos dos lençóis logo chegada a casa e deixar a melhor parte de mim morrer. E até hoje, mais nada soube sobre ele. Absolutamente nada. E tinha que vir hoje aqui para me lembrar disso e para me sentir novamente a enfraquecer... 
Deito-me na areia e deixo-me adormecer, repetindo todos os momentos que passámos juntos e tentando não pensar no facto de ele se ter ido embora - tendo em esperança ser a última vez que revia tudo isto. 
Se ele não tinha um porquê para ficar comigo, eu também não terei um porquê para continuar a dar-lhe abrigo no meu coração.