domingo, 28 de junho de 2015

(Blank Space)


Deixaste-te ficar pelo silêncio. Escondeste-te por detrás dos balões do pensamento mas nunca, em momento algum, conseguiste explicar-te. Os diálogos que se estendiam pelas madrugadas foram substituídos pelos suspiros de saudade daquilo que nunca existiu realmente. As juras – que não eram mais do que palavras – foram substituídas por um desviar do olhar no meio do corredor. Como se não nos conhecêssemos, como se não tivéssemos partilhado histórias e medos, aspirações e desejos. Camuflaste-te no meio do silêncio, e deixaste-me à deriva; partiste do princípio de que eu não queria saber porque, também eu, decidi optar por ele. Não foi rancor. Não foi ciúme. Decidi-me pelo silêncio e pela distância, porque essa, naquele momento, me parecia a resposta mais direta para a desilusão que sentia. Porque as pessoas gostam de usar palavras (que mais parecem navalhas) quando a cabeça lhes ferve, e depois essas palavras fazem ricochete e voltam para elas mais fortes e destruidoras. Achei que conseguia ignorar sem me autodestruir... E a verdade é que me reconstruí.
Deixaste-te ficar pelo silêncio. Deixei-me ficar pelo silêncio. E agora aqui estamos: dois desconhecidos que se conhecem tão bem.

Longe.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Insight


No meio da confusão, apercebi-me. Por entre apontamentos coloridos, folhas espalhadas, saberes por aprender e palavras por dizer, apercebi-me. Provavelmente já o sabia, no entanto teimava em achar que o defeito não era meu. Se já tinhas tantos, como outra pessoa qualquer, porque não haverias de ter outro? Mas, desta vez, talvez tenha sido eu a enganar-me.
Passara os últimos tempos a achar que ele tinha uma venda nos olhos que o impossibilitava de ver que éramos feitos um para o outro: não éramos carne da mesma carne, ou sangue do mesmo sangue, mas completavamo-nos como um café e uma nata. Tu e eu. Éramos tu e eu. Convenci-me de que o único problema aqui era a incapacidade dele de amar alguém, o medo de dar um passo em frente, e o único desejo de receber e pouco dar. Mas até que ponto será isso verdade?
Virei uma página e tentei deixa-lo nela. No entanto, enquanto a escrevia, borratei a mão com a caneta ainda por secar, e ele foi deixando rastos na página seguinte. De quando a quando, lá está ele. A estragar uma folha completamente perfeita, um novo capítulo de uma história que ainda tem tanta tinta por escorrer – mas está ali. Para que ele deixe de reaparecer em cada nova página que escrevo, terei que lavar as marcas dele da minha mão, do meu corpo, do meu coração. Preciso de ser forte e compreender que é o melhor a fazer.
Os seus pensamentos enrodilharam-se de tal maneira que, desta vez, vira com clareza o que estava à sua frente há tanto tempo: outrora, não estivera cega. Naquele momento, também não.  Não tinha sido suficiente para ele. Não digo que não tenha sido boa o suficiente, ou aquela que o faria mudar… Simplesmente, não era quem ele procurava. Podia até o ter acarinhado como mais ninguém fizera, podia ter-lhe dado sentimentos que ele nunca mais encontraria por mais que procurasse em cada esquina; mas simplesmente não era suficiente. Já devia ter partido faz tempo, mas decidiu ficar ali, a deleitar-se com o prosseguir de uma história que não a deleitava de todo. Perfurava-lhe o coração por mais que ela o negasse e, no fundo do seu ser, só queria sair dali.
Mas compreendera. O fim já tinha sido há muito. Não queria voltar atrás, mas é difícil tirar marcas que tinham sido tão bem cravadas nos poros do seu peito. Era difícil esquecer, porque a memória convive connosco e não nos permite faze-lo quando nos apraz.
Não tinha sido suficiente, mas estava contente por isso. Ele também não era suficiente para ela.

Só faltava ela própria compreender isso.