sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

thoughts can kill

Todos os dias, quando chego a casa, tenho por hábito sentar-me numa cadeira em frente à lareira que já se encontra acesa. Mergulho nos meus mais profundos pensamentos, aqueles aos quais não recorro frequentemente porque me deixam feridas. De cada vez que lhes passo um dedo para tirar o pó, ele começa a sangrar; além de dolorosos, são ainda pesados. Deixam-me a cabeça em água, e o peso que estava no meu cérebro viaja até ao coração, onde permanece
Tudo não passa de uma pequena lavagem à minha vida, onde dou conta de todas as oportunidades que deixei para trás. Se as tivesse aproveitado naquele momento, talvez agora fosse mais feliz!, ou não... Logo ali, ponho-me a imaginar a mim mesma a viver outros dias, numa diferente rotina da minha. Ser outra pessoa. Simplesmente não ser eu, por algumas horas, bastava. Só queria sentir o sabor do tempo estando na pele de um desconhecido, alguém que eu já tivesse passado na rua mas que nem tivesse dado conta da sua presença. Mas como não posso deixar de ser eu mesma, fico-me por estas viagens aos túneis praticamente abandonados do mais obscuro do meu corpo: onde tudo e nada e acontece ao mesmo tempo. Por onde, de quando a quando, num vai e vem maluco, passam correntes elétricas fruto do meu subconsciente viajante. Esforço-me bastante para não ir demasiado longe até dias dos quais me arrependo de ter feito muita coisa, pois são esses os que mais me custam lembrar - mas é praticamente impossível não dar conta da sua presença... Eles estão ali, mesmo à espera de arranjar um espaço vazio no meu cérebro e darem-se a conhecer novamente. E é aí que os sopro para longe, para não me magoar mais.
E em todos os dias que penso, penso também no futuro. Quem não pensa nele, é quem não quer sofrer. Quem não pensa nele, é quem sabe gozar o presente. E sei-o eu? Não. Deixei parte de mim no passado e por isso, agora tenho medo do futuro.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

falta pouco

Ainda ando a tentar pôr um ponto final em todas as linhas que escrevi desta história interminável sobre o que fomos e o que somos, mas não tenho coragem. Sei que sempre haverá algo entre nós, mas que é como uma poeira que passa e volta. Vem tudo da minha imaginação. Tudo é nada, e hoje em dia para sempre é cliché.
Quem são essas pessoas que teimam dizer que amam sempre e para sempre? Oh, pois! Sou eu. Sou teimosa de coração; não esqueço o que me marca e relembro o que foi escrito nas páginas perdidas pelo vento, que decidiu por vontade própria espalhar as nossas linhas por esse mundo fora, sem o nome do autor no final. Por cada letra perdida nessas ruas abandonadas, foi tirado menos um dia ao meu viver. Eu depositava a minha vida ali, naquelas palavras que para muitos são maçudas mas que a mim... me dizem tudo. Tentei tirar a minha alma do fundo do poço, mas o que veio junto dela? Recordações. Nada mais do que isso. E quando me apercebi de que o peso que sentia nas costas era por causa delas, voltei a deixá-la ali, bem lá no fundo. Ando a tentar arranjar fôlego para mergulhar naquela água gelada, mais gelada ainda que esse meu órgão que permite o sangue viajar pelo meu corpo, e resgatá-la. Não há que nos temer a nós próprios. Mas há que ter cuidado! Quem se conhece sabe que não pode dar aquele passo, se sabe que esse irá levar a outro e a outro. Podemos dar passos de gigante, mas ainda mais de caranguejo - e eu tenho receio, porque não quero regressar. Quero olhar em frente, e ter a bravura de seguir a direção certa sem me massacrar muito. Mas falta pouco. Eu sei que falta.