quarta-feira, 4 de abril de 2012

morar na lua

Há coisas na nossa vida que por muito que nós queiramos ter conhecimento delas, existe algo dentro de nós que nos impede a ir em sua procura. Apela-nos a ficar na ignorância. Como se um objeto muito pequenino mas de grande poder estivesse instalado entre as entranhas, e nos fizesse ter aquela dor de barriga que nós temos quando estamos nervosos, nestes mesmos momentos. Lá no fundo, nós próprios sabemos da possibilidade de nos magoar-mos. Apesar da grande curiosidade, quase assassina, arranjamos uma força não sei de onde, capaz de lutar contra não sei o quê, para colocar uma barreira no nosso caminho e uma cadeira atrás dela, na qual nos devemos sentar e esperar pelo momento certo no qual descobrimos aquilo que tanto anseavamos.
Ao abrirmos os olhos, temos duas hipóteses: ou sentimos uma faca a passar-nos na garganta - o que é o mais provável, visto que se o instinto nos disse para esperarmos, é porque algo de mau se iria passar; ou podemos ter a feliz sorte de nos pegarem ao colo e nos coroarem com flores.
A vida é assim, uma inconstância. Tanto a podemos querer, como podemos tentar fugir dela a sete pés. Depende dos dias, depende dos lugares, depende das ocasiões. Mas de que vale tentarmos fugir às evidências quando elas estão bem à nossa frente, sublinhadas e a negrito? Para quê sonharmos demasiado alto quando na realidade, tempos antes, chorámos desalmadamente antes de ir dormir? Realmente, não vale a pena. Acho que vou alugar um foguetão para ir morar para a Lua porque aqui, no nosso planeta, nada me parece justo.

domingo, 1 de abril de 2012

self-destruction

Acordei com o som da chuva lá fora mas nem me apeteceu abrir os olhos. Sabem aqueles momentos em que sentimos que a nossa cama, naquele dia, é o melhor sítio onde se pode estar e que não devemos sequer sair de lá? Hoje foi esse dia. Estava aconchegada, confortável e segura. Nada de mal me podia acontecer ali. Mas o dia não se fazia sozinho, portanto tive de arranjar forças onde elas não existiam, atirar os cobertores para trás e saltar da cama, a tremer por todo o lado. Em milésimas de segundos vesti-me, tomei o pequeno-almoço e saí de casa. O dia passou como todos os outros passam. Para falar verdade, ando farta desta monotonia. A mesma rotina, as mesmas pessoas, os mesmos temas de conversa, as mesmas atividades... Tudo me sabia ao mesmo, e começava a dar-me enjoos. Todos os dias chegava stressada a casa, e a única coisa que podia fazer para baixar a tensão que me controlava todo o corpo era ir para o chuveiro e pôr a cabeça debaixo de água fria e deixar-me por lá a ficar, a sentir aquele gelo percorrer-me todo o corpo - do cabelo para os ombros, dos ombros para as ancas, das ancas para os joelhos, dos joelhos para os pés... 
Quase ao anoitecer, abri a janela da sala e empurrei o meu sofá para a frente dela, onde me deitei e pus os pés no parapeito. Os meus olhos e alma estava regalados. O pôr do sol, como sempre reconfortante, despedia-se de mim de forma suave e simpática. Se eu não tivesse a certeza que não tinha tocado no whisky que estava em cima da mesa da cozinha à minha espera, diria que estava a delirar, mas eu senti os raios de sol a puxarem-me para ele, a convidarem-se para uma dança só nossa. Espreguicei-me e fechei os olhos, e o primeiro sentimento que me perfurou o coração logo nesse momento, sem eu ter tempo para o evitar, foi saudade. A este seguiu-se um sopro de desespero, uma pitada de dor e um ínfimo risco de desilusão. E aí relembrei tudo. O fato de nos últimos tempos ter tido o cérebro bem ocupado fez-me quase esquecer o caos que estava a minha vida amorosa. E neste momento só meu, a sós comigo própria, levou-me a reviver tudo. Tinham passado semanas, e nada havia acontecido. Nada. Depois do que fiz, nem um passo em frente tinha dado. 
Levantei-me do sofá, fechei a janela com muita força e fui para a cozinha. Peguei num copo e sentei-me à mesa. Arrependi-me da minha escolha nos dois segundos seguintes e decidi-me a ir para o quarto, meter-me debaixo dos cobertores, tapar os ouvidos aos meus próprios pensamentos «Não vales nada», «Não és boa o suficiente», «Achas que alguma vez seria possível isso acontecer?», fechar os olhos firmemente e tentar dormir.