Caminhando pela rua fora, sinto-me uma sem destino. Poucas são as
luzes da estrada que se encontram acesas e, as poucas que restam nesta rua
quase sem vida, estremecem de uma forma que me parece tresloucada. Sinto-me só,
e não há uma única casa que não seja habitada. A minha? Já está longe. Sinto
que estou a caminhar há horas, mas é mentira, acho eu. O único sítio aonde irei
parar é em frente à tua porta, nem que demore até ao amanhecer a chegar lá. Preciso
de me sentir perto de ti, mas tu não deixas. Afastas-me, e nem dás por isso. Ou
dás. Não sei.
Vivo numa guerra constante entre o meu coração, e a minha restante
sanidade mental que não me permite dizer-te o que sinto. De vez em quando, esse
meu fraco órgão propulsor consegue atirar-se para a frente, estando em ínfimo
avanço perante o meu cérebro – e eu deixo-me ir, dando pistas demasiado óbvias
de que te quero; mas depois, não sei como, ele mais uma vez perde forças e
deixa-se, novamente, ficar para trás. Não há um dia em que isto não aconteça, e
é por isso que preciso de estar na tua presença para, finalmente, conseguir
compreender o que é que se anda a passar dentro de mim. Porque, por mais que
tente, esta máscara que me adorna o rosto já não é a mesma que eu tinha há
tempos… Ela começou a envelhecer e, junto dela, também eu me comecei a sentir
como um trapo. Se calhar é por andar demasiado tempo à deriva. Habituei-me a
isso, e agora é como se não me importasse. Só que quem muito anda à deriva
acaba por parar em algum porto, e eu pensei que tu fosses o meu… Mas, pelos
vistos, não o és. Ou se o és, não o demonstras! E não há mais forças para
continuar a navegar sem destino neste oceano ao qual dou ao nome de dúvidas há tanto
tempo.
Depois de reconhecer os três algarismos que fazem parte da tua morada,
a qual não conhecia mas que agora reconheço, paro. As janelas têm todas uma
pequena luz a iluminar cada divisão da casa – pelas minhas contas, estás no
último andar. Sei exatamente o que estás a fazer, o de sempre… E é por esse
mesmo motivo que não me preocupo que vás aparecer e que me apanhes a “espiar”
pequenos pedaços que fazem parte da tua vida: só te quero sentir perto de mim,
compreender como é que vives, se estás sempre tão bem quanto demonstras e…
Congelo.
Respiro fundo.
Fui apanhada em flagrante. Agora, sabes o meu suposto segredo – que se
encontra tão bem estampado no meio da minha testa, nas minhas mãos, nas minhas
pernas e no meu peito. Resta saber se para ti era novidade. Olhas para mim, e
sorris. Não sei se o fazes para me dar uma garantia de que está tudo bem, ou para me dares a compreender que sabes, e sempre soubeste, tudo o que nutro por ti. Tenho medo.