quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

do u know?



Caminhando pela rua fora, sinto-me uma sem destino. Poucas são as luzes da estrada que se encontram acesas e, as poucas que restam nesta rua quase sem vida, estremecem de uma forma que me parece tresloucada. Sinto-me só, e não há uma única casa que não seja habitada. A minha? Já está longe. Sinto que estou a caminhar há horas, mas é mentira, acho eu. O único sítio aonde irei parar é em frente à tua porta, nem que demore até ao amanhecer a chegar lá. Preciso de me sentir perto de ti, mas tu não deixas. Afastas-me, e nem dás por isso. Ou dás. Não sei.
Vivo numa guerra constante entre o meu coração, e a minha restante sanidade mental que não me permite dizer-te o que sinto. De vez em quando, esse meu fraco órgão propulsor consegue atirar-se para a frente, estando em ínfimo avanço perante o meu cérebro – e eu deixo-me ir, dando pistas demasiado óbvias de que te quero; mas depois, não sei como, ele mais uma vez perde forças e deixa-se, novamente, ficar para trás. Não há um dia em que isto não aconteça, e é por isso que preciso de estar na tua presença para, finalmente, conseguir compreender o que é que se anda a passar dentro de mim. Porque, por mais que tente, esta máscara que me adorna o rosto já não é a mesma que eu tinha há tempos… Ela começou a envelhecer e, junto dela, também eu me comecei a sentir como um trapo. Se calhar é por andar demasiado tempo à deriva. Habituei-me a isso, e agora é como se não me importasse. Só que quem muito anda à deriva acaba por parar em algum porto, e eu pensei que tu fosses o meu… Mas, pelos vistos, não o és. Ou se o és, não o demonstras! E não há mais forças para continuar a navegar sem destino neste oceano ao qual dou ao nome de dúvidas há tanto tempo.
Depois de reconhecer os três algarismos que fazem parte da tua morada, a qual não conhecia mas que agora reconheço, paro. As janelas têm todas uma pequena luz a iluminar cada divisão da casa – pelas minhas contas, estás no último andar. Sei exatamente o que estás a fazer, o de sempre… E é por esse mesmo motivo que não me preocupo que vás aparecer e que me apanhes a “espiar” pequenos pedaços que fazem parte da tua vida: só te quero sentir perto de mim, compreender como é que vives, se estás sempre tão bem quanto demonstras e…
Congelo.
Respiro fundo.
Fui apanhada em flagrante. Agora, sabes o meu suposto segredo – que se encontra tão bem estampado no meio da minha testa, nas minhas mãos, nas minhas pernas e no meu peito. Resta saber se para ti era novidade. Olhas para mim, e sorris. Não sei se o fazes para me dar uma garantia de que está tudo bem, ou para me dares a compreender que sabes, e sempre soubeste, tudo o que nutro por ti. Tenho medo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

no fundo



Porquê é que nós, seres humanos, temos uma tendência para insistirmos profundamente no que sabemos não ter futuro? É como se, sabendo o fim do filme, teimássemos em tentar mudar-lhe o argumento quando este já está impresso e pronto a ser decorado pelos atores que nós somos nesta vida desde que nascemos. Não há volta a dar – não podemos tentar ter a audácia de olhar para trás como quem está no último lugar do autocarro a admirar o pôr-do-sol no final da tarde para tentar esquecer o fato de que estamos a ir embora; não podemos atirarmo-nos para trás porque o poder do tempo empurra-nos para a frente.
O livro do decorrer da nossa vida está escrito há muito tempo e não vai haver novas edições: já estava destinado eu estar aqui, sentada, a pensar em ti e a escrever sobre a inexistência da nossa relação amorosa. Oh, sabes que te amo? Sei que sim. Mas teimas em ignora-lo, e eu teimo em trazer este meu sentimento à tona a todas as horas. Tento empurrar para ti um pequeno barquinho de papel, mas é demasiado fraco – não chega a ti, que estás do outro lado do rio. E por ser tão frágil, também eu o sou. E não sou capaz de, diretamente, dizer que preciso de ti. Na verdade, nem indiretamente. Mas continuo a persistir e a pensar em ti com tons aveludados. Só que, logo de seguida, sem me dar tempo para decorar os teus traços a sorrirem para mim, a realidade sopra esses pensamentos para bem longe e obriga-me a ver verdadeiramente o que se passa à minha frente. Nada. Pois, não se passa nada, mas mesmo assim o meu âmago leva-me a achar que sim. E é por isso que, a toda a hora, me sinto afundada nos meus próprios pensamentos, que me aldrabam e me fazem sofrer quando, finalmente, consigo vir à superfície respirar o amargo oxigénio da realidade.  
E tu nunca estás lá para me ajudar a sair dessa água maldita.