terça-feira, 1 de janeiro de 2013

é isso

Sinto-me pequena neste mundo tão enorme que, constantemente, me empurra para o chão. Ultimamente, e com bastante frequência, até este me falha.
Estou farta de ver que as pessoas olham para mim como se eu fosse invisível, um pedaço de carne andante e sem essência que nem sequer vale o gasto de tempo; é como se estivesse encarcerada numa caixa – ninguém me tocava, ninguém me dava atenção. À minha volta, todos sorriem para mim. Mas não consigo sentir o calor do levantar dos cantos das bocas deles… Não me atinge. Acima de tudo, sinto-me só e, como já disse diversas vezes, não estou sozinha. Mas por mais pessoas que estejam à minha volta a acarinhar-me e a tentar arrancar-me do buraco, eu não consigo sair. Não tenho forças para fugir, quanto mais para me desprender daquilo em que me tornei. Parece que, ao longo do tempo, me afundo cada vez mais neste mar que me tortura e me afoga.
Já não há quem tenha forças para me amparar nesta queda a que estou destinada há muito tempo; e os anos passam, o tempo passa... e nada se altera. Eu devia mudar tal como se mudam as estações, mas mantenho-me intacta, um livro que é escrito de uma só vez e sem nunca o escritor ter que se socorrer de uma borracha para voltar atrás e colocar um ponto final onde está a vírgula. O que eu devia fazer era pegar neste mesmo meu livro e atirá-lo à cara do homem para o fazer perceber de que alguma coisa não está correta – obriga-lo a apagar o inevitável e a reescrever o final. Já!
Os segundos são setas, os minutos são balas e as horas, são bombas. Baixei os braços. Atirei o meu escudo de papelão e as minhas armas de água para o chão, ajoelhei-me, coloquei as mãos em forma de amêijoa e olhei para o Céu. E deixei-me ali ficar, à espera de misericórdia enquanto estendia uma bandeira branca com o olhar.