segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Touch U

              


                Antes de ter coragem para levantar as pálpebras e enfrentar os raios solares de um novo dia, imaginei-te só mais um bocadinho. Virei-me de lado, para ficar mais confortável, e pensei em ti mais uma vez. Esta noite tentei agarrar-te enquanto, de forma repentina e inesperada, me apareceste num sonho. Como sempre, fugiste-me entre os dedos. Fico sempre atordoada quando decides invadir o mais profundo da minha mente, e por mais que tente correr atrás de ti, há sempre algo que me impede de te alcançar. Voltei a virar-me e, desta vez, abri os olhos. Não posso continuar a viver num mundo de sonhos quando a realidade, lá fora, ordena que a vá viver. 
                Durante a viagem, fecho um pouco os olhos. O teu olhar atravessa-me o pensamento e dá-me uma fisgada no coração. Não posso continuar a andar atrás de algo que teima em fugir de mim e que não pensa sequer em abrandar. Por mais que o tom da tua voz e a lembrança do teu semblante façam o meu coração bater, não é possível se não remarmos para o mesmo lado. Preciso que me dês a mão e que, juntos, nos atiremos ao precipício. Não vivemos de quases, mas vivemos de metades, se considerarmos que temos metades que se completam. Se formos para ser, não existirá dor quando os tímpanos rebentarem e quando a falta de gravidade nos tirar os pés do chão. Se for para ser, havemos de arranjar uma maneira para que tudo resulte. Porque é assim que se conjuga o verbo gostar: alienamo-nos ao lutar, ao tentar, e ao desistir (com uma pequena negação antes, claro). Além disso, acrescentamos uma pequena pitada de arriscar e está pronto. Não precisamos de ter medo de nos lançarmos num vácuo ao qual nós próprios podemos dar alguma cor, sem utilizarmos o pára-quedas.

                Fecho novamente os olhos. Penso em ti. Sorrio. Fazes-me bem quando estás perto de mim. Viro-me de lado, para ficar mais confortável, e relembro a tua expressão quando olhas para mim. Esta noite consegui agarrar-te quando apareceste atrás da porta da sala, no meu sonho. Abracei-te e sussurrei-te ao ouvido que tinha saudades tuas. Nesse momento, o sonho terminou. Levantei as pálpebras, e encarei a realidade.