Antes
de ter coragem para levantar as pálpebras e enfrentar os raios solares de um
novo dia, imaginei-te só mais um bocadinho. Virei-me de lado, para ficar mais
confortável, e pensei em ti mais uma vez. Esta noite tentei agarrar-te
enquanto, de forma repentina e inesperada, me apareceste num sonho. Como
sempre, fugiste-me entre os dedos. Fico sempre atordoada quando decides invadir
o mais profundo da minha mente, e por mais que tente correr atrás de ti, há
sempre algo que me impede de te alcançar. Voltei a virar-me e, desta vez, abri
os olhos. Não posso continuar a viver num mundo de sonhos quando a realidade,
lá fora, ordena que a vá viver.
Durante
a viagem, fecho um pouco os olhos. O teu olhar atravessa-me o pensamento e
dá-me uma fisgada no coração. Não posso continuar a andar atrás de algo que
teima em fugir de mim e que não pensa sequer em abrandar. Por mais que o tom da
tua voz e a lembrança do teu semblante façam o meu coração bater, não é
possível se não remarmos para o mesmo lado. Preciso que me dês a mão e que,
juntos, nos atiremos ao precipício. Não vivemos de quases, mas vivemos de
metades, se considerarmos que temos metades que se completam. Se formos para
ser, não existirá dor quando os tímpanos rebentarem e quando a falta de gravidade nos
tirar os pés do chão. Se for para ser, havemos de arranjar uma maneira para que
tudo resulte. Porque é assim que se conjuga o verbo gostar: alienamo-nos ao
lutar, ao tentar, e ao desistir (com uma pequena negação antes, claro). Além
disso, acrescentamos uma pequena pitada de arriscar e está pronto. Não
precisamos de ter medo de nos lançarmos num vácuo ao qual nós próprios podemos
dar alguma cor, sem utilizarmos o pára-quedas.
Fecho
novamente os olhos. Penso em ti. Sorrio. Fazes-me bem quando estás perto de
mim. Viro-me de lado, para ficar mais confortável, e relembro a tua expressão
quando olhas para mim. Esta noite consegui agarrar-te quando apareceste atrás
da porta da sala, no meu sonho. Abracei-te e sussurrei-te ao ouvido que tinha
saudades tuas. Nesse momento, o sonho terminou. Levantei as pálpebras, e
encarei a realidade.
E que cada parte um do outro saiba conjugar o verbo gostar. Com uma negação atrás do que não vem por acréscimo, e seja sempre presente a realidade de sonhos.
ResponderEliminarAdoro ler-te. Como sempre.
Lindíssimo. Espero que a tua realidade torne-se no teu sonho todos os dias.
ResponderEliminarGostei de ler(-te) *