Deixaste-te
ficar pelo silêncio. Escondeste-te por detrás dos balões do pensamento mas
nunca, em momento algum, conseguiste explicar-te. Os diálogos que se estendiam
pelas madrugadas foram substituídos pelos suspiros de saudade daquilo que nunca
existiu realmente. As juras – que não eram mais do que palavras – foram
substituídas por um desviar do olhar no meio do corredor. Como se não nos conhecêssemos,
como se não tivéssemos partilhado histórias e medos, aspirações e desejos.
Camuflaste-te no meio do silêncio, e deixaste-me à deriva; partiste do
princípio de que eu não queria saber porque, também eu, decidi optar por ele.
Não foi rancor. Não foi ciúme. Decidi-me pelo silêncio e pela distância, porque
essa, naquele momento, me parecia a resposta mais direta para a desilusão que
sentia. Porque as pessoas gostam de usar palavras (que mais parecem navalhas)
quando a cabeça lhes ferve, e depois essas palavras fazem ricochete e voltam
para elas mais fortes e destruidoras. Achei que conseguia ignorar sem me autodestruir...
E a verdade é que me reconstruí.
Deixaste-te
ficar pelo silêncio. Deixei-me ficar pelo silêncio. E agora aqui estamos: dois
desconhecidos que se conhecem tão bem.
Longe.
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