Este
céu… Lembra-me de ti. Não é pelo azul inexistente dos teus olhos cor de mar, ou
pelas nuvens feitas do algodão doce que partilhávamos na festa da terrinha.
Não.
Apercebi-me
de que quanto mais olhava para ele, mais ele me fazia lembrar-te. As nuvens
pareciam construir um caminho que – quase o juro – tenho a certeza me levava
até à tua presença. Foi por isso que, mal cheguei a casa, fugi logo para longe.
Não queria aproximar-me, muito menos reaproximar-me.
Aquilo
que me faz lembrar de ti quando olho para aquela eternidade pintada a azul com
uns adornos esbranquiçados, é a sua serenidade. A profundidade com que, de
rompante, me olhavas por entre cada bafo no cigarro e te fechavas em desabafos
sobre a vida. A tua calma enquanto me davas a mão antes de irmos até ao café,
como se tivéssemos feito isso uma vida inteira.
Conheço várias histórias de
amor: cada uma com o seu encanto, cada uma com a sua magia, e todas de géneros
diferentes. Aquelas que começam ainda a puberdade mal atacou, e que só
terminarão quando a morte os separar; aquelas que nascem de um outro sentimento
tão ou mais colorido que o amor, e que viram o mundo dos que dela fazem parte
do avesso; as que nascem e, por momentos, desfalecem mas, quando menos se
espera, voltam à vida com mais força; as que aparecem de um encontrão entre
dois desconhecidos… São tantas, e todas tão bonitas… Mas nenhuma é tão linda
como a que melhor conheço. Que nasceu do céu, porque é dele que os teus olhos
são feitos. Porque é dele que o meu coração é feito. Que nasceu do mar, porque
é ele que contorna a tua alma e a minha quando se encontram. Nenhuma é tão
linda como aquela.
Fujo de ti porque sei que não é
certo que te volte a dar a mão. As nuvens tentam seduzir-me, trazem-me
lembranças que me eriçam os pêlos, puxam-me na tua direção. Mas eu não posso
nada mais fazer que fugir, porque tu não és meu.
Nunca o foste, e é por isso que tomo um comprimido anti-memória para as dores
de coração em forma garrafal, e me escondo entre os cobertores. Quero que o céu
chova, e as nuvens esbranquiçadas deixem de morar em cima da minha casa. Ela
deixou de ser também a tua morada, e é hora de irem embora. Nas horas certas,
ainda vou pedindo o mesmo desejo há meses. Vou tentando. Sem persistência, nada
acontece. Fujo de ti.
Aquela.
A nossa?
Aquela que não me pertence.
És por certo maravilhosa, e que chova o céu para que não te doa o azul. Mas sabe que carmesim de pôr do sol não quer dizer nada no ultrapassar de uma vida. Bebemos com os olhos os poemas dos sentimentos.
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