domingo, 12 de julho de 2015

Horas certas

                
               Este céu… Lembra-me de ti. Não é pelo azul inexistente dos teus olhos cor de mar, ou pelas nuvens feitas do algodão doce que partilhávamos na festa da terrinha. Não.
                Apercebi-me de que quanto mais olhava para ele, mais ele me fazia lembrar-te. As nuvens pareciam construir um caminho que – quase o juro – tenho a certeza me levava até à tua presença. Foi por isso que, mal cheguei a casa, fugi logo para longe. Não queria aproximar-me, muito menos reaproximar-me.
                Aquilo que me faz lembrar de ti quando olho para aquela eternidade pintada a azul com uns adornos esbranquiçados, é a sua serenidade. A profundidade com que, de rompante, me olhavas por entre cada bafo no cigarro e te fechavas em desabafos sobre a vida. A tua calma enquanto me davas a mão antes de irmos até ao café, como se tivéssemos feito isso uma vida inteira.

Conheço várias histórias de amor: cada uma com o seu encanto, cada uma com a sua magia, e todas de géneros diferentes. Aquelas que começam ainda a puberdade mal atacou, e que só terminarão quando a morte os separar; aquelas que nascem de um outro sentimento tão ou mais colorido que o amor, e que viram o mundo dos que dela fazem parte do avesso; as que nascem e, por momentos, desfalecem mas, quando menos se espera, voltam à vida com mais força; as que aparecem de um encontrão entre dois desconhecidos… São tantas, e todas tão bonitas… Mas nenhuma é tão linda como a que melhor conheço. Que nasceu do céu, porque é dele que os teus olhos são feitos. Porque é dele que o meu coração é feito. Que nasceu do mar, porque é ele que contorna a tua alma e a minha quando se encontram. Nenhuma é tão linda como aquela.

Fujo de ti porque sei que não é certo que te volte a dar a mão. As nuvens tentam seduzir-me, trazem-me lembranças que me eriçam os pêlos, puxam-me na tua direção. Mas eu não posso nada mais fazer que fugir, porque tu não és meu. Nunca o foste, e é por isso que tomo um comprimido anti-memória para as dores de coração em forma garrafal, e me escondo entre os cobertores. Quero que o céu chova, e as nuvens esbranquiçadas deixem de morar em cima da minha casa. Ela deixou de ser também a tua morada, e é hora de irem embora. Nas horas certas, ainda vou pedindo o mesmo desejo há meses. Vou tentando. Sem persistência, nada acontece. Fujo de ti.
Aquela.
A nossa?

Aquela que não me pertence.

1 comentário:

  1. És por certo maravilhosa, e que chova o céu para que não te doa o azul. Mas sabe que carmesim de pôr do sol não quer dizer nada no ultrapassar de uma vida. Bebemos com os olhos os poemas dos sentimentos.

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