sábado, 20 de setembro de 2014

Choices

                

                Foste o alinhar do Sol, da Lua e das estrelas. Estiveste no coração do tufão e saíste ileso. Pegaste em todos os grãos de areia de uma única praia e atiraste-os à mercê do vento. Tornaste o amargo em doce e transformaste a dor em alegria. Esfregaste a lamparina e convenceste o génio a dar-te cinco desejos. Olhaste para mim…
            Olhaste para mim. Abriste a porta do meu ente sem antes bater três vezes. Não tocaste no ferrolho. Mas entraste, de mansinho, pela fechadura. Não tocaste sequer à campainha e eu não sabia que estavas ali à espera. Mas quando me apercebi de ti ali no meio, a destoar do resto da mobília, focado no meio do desfoque que é a minha vida, especado a olhar para mim – olhos nos olhos, braços ao longo do corpo – eu vi. Vi-te. Vi-me. Vi-nos.
              Não é suposto o mundo parar quando encontramos o impossível no meio do possível. Quando não estamos à espera, quando achamos que não somos capazes de tocar em algo e, de repente, sentimos o roçar desse “algo” na nossa pele. É o que se diz… Que deixamos de ouvir tudo à nossa volta, deixamos de dar atenção aos demais, e só vemos aquela pessoa. O impossível no meio do possível. O homem da máscara que, finalmente, a deixa cair em cima da lama. A troca de olhares. E o passar ao lado.
           É esse o problema da humanidade. Passamos ao lado daquilo que nos faz bem, daquilo que desperta o que há de melhor em nós, para corrermos para algo mais fácil. Só porque aquilo que nos deixa mais feliz nos dá luta. De que serve chegar ao final da maratona se não sentimos o suor a escorrer-nos pela testa, a adrenalina a ferver-nos no sangue?
         Oh. É o esfervilhar do sangue e o palpitar tresloucado do coração acompanhado com o esvoaçar aleatório das borboletas no estômago que dão vontade de continuar. De tentar agarrar a chance antes de lhe passarmos ao lado.
               
        Ainda és a minha mistura de água e azeite. O meu caminhar na Lua sem usar o capacete de astronauta. A criança que não chora e a pessoa que não sofre. O impossível. Mas também és o meu olhar para os Céus e a contemplação das nuvens. O ir para a cama, pousar a cabeça, e adormecer nesse segundo. A mistura de um pastel de nata com um café. Um andar à chuva sem ficar doente. Um mergulhar na escuridão e emerger na claridade. O possível.

        Olhaste para mim.

2 comentários:

  1. Gostava de olhar para mim e encontrar-me como tu te encontras nas palavras, que bem que escreves e quão incrivél e forte são cada palavra que citas... Céus!

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