Vão-nos
dizendo para sermos felizes. Afirmam que anda por aí fora alguém, à nossa
espera, que não é a nossa metade mais-que-perfeita: não; é alguém que, apesar
de diferente de nós, se encaixa. Que nos completa e torna melhores.
O
que as pessoas se esquecem é por aquilo que temos que passar até sermos
realmente felizes. Quando ainda estamos no baloiçar da dúvida, vivendo os “e se”
e com medo que tudo falhe. Vamos investindo em algo que ainda nada é, com
esperanças de que vá crescendo e ganhe alicerces, mas sentimo-nos como
marionetas: controladas pelo Outro, sem saber bem para onde se virar. Andamos à
deriva. Claro que vamos conseguindo sentir a felicidade de quando a quando, mas
muitas vezes a incerteza consegue esmaga-la e fazer-se sentir apenas a si
própria. Não existe um botão que nos permita parar de pensar na possível cara-metade
ou que nos faça afastar dela. Vamos usando os nossos próprios trunfos, tirados
da manga da camisa que agora decidimos arregaçar, e tentamos que as coisas
resultem. Queremos ser tudo. Queremos que nos amem como descrevem nos livros.
Queremos ser motivos de poemas e músicas. Queremos alguém que, se calhar, se o tivéssemos,
não o quereríamos ter…
Desejamos
sempre aquilo que não nos pertence. Ou melhor: aquilo que não temos. Antes de
realmente ter, o que sabemos nós de preferências? Vamos amando às migalhas.
Achando uma aqui e a ali, e a saboreá-las de quando a quando. Vamo-nos apaixonando,
e nem damos por isso. Quando nos apercebemos, já mordemos o isco há bom tempo e
agora é tarde demais para voltar atrás. Mesmo tentando içar a âncora para
terra, já o barco está tão longe da costa que mal vemos o farol. Estamos presos
numa rede invisível que nos ligar ao pescador. Agora a questão… será que este
pescador quer aproveitar esta madrugada, ou vai voltar a deixar o peixe no mar?
Não
precisamos de declarações melodramáticas ou de peluches gigantes quando fazemos
“semanas de amor”. Basta um olhar. Um beijo inesperado no canto do corredor,
onde ninguém é capaz de testemunhar este carinho fugaz. Palavras saudosas antes
de ir dormir. Só precisamos de saber que é verdadeiro.
Mais incrível do que as tuas palavras, sempre fortes e pertinentes, eu adoro o jeito como organiza teus pensamentos e estruturas teu texto. Percebi que cada vez que eu venho aqui aprendo uma coisa nova sobre a vida e sobre a forma de me expressar através das palavras. Provavelmente é o teu português de Portugal, que me fascina de um jeito incrível.
ResponderEliminar<3
Este texto, lido agora, disse-me tanto. Com esta música de fundo, perfeito. :) adorei!
ResponderEliminar"Só precisamos de saber que é verdadeiro"
ResponderEliminarMaravilhoso!
há tristezas que nos alegram de quando a quando. há pessoas que nos surpreendem de tempos a tempos. há caminhos que se cruzam não se entende bem porquê. e talvez não seja para entender. talvez seja esse amor que vem às migalhas que falas, talvez seja esse pedaço de destino que nos faz cair em alto mar vezes e vezes sem conta. há caminhos que se cruzam nesses mares compridos demais. há mares de esperança.
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