Foste o alinhar do Sol, da Lua e das estrelas. Estiveste no
coração do tufão e saíste ileso. Pegaste em todos os grãos de areia de uma
única praia e atiraste-os à mercê do vento. Tornaste o amargo em doce e
transformaste a dor em alegria. Esfregaste a lamparina e convenceste o génio a
dar-te cinco desejos. Olhaste para mim…
Olhaste
para mim. Abriste a porta do meu ente sem antes bater três vezes. Não tocaste
no ferrolho. Mas entraste, de mansinho, pela fechadura. Não tocaste sequer à
campainha e eu não sabia que estavas ali à espera. Mas quando me apercebi de ti
ali no meio, a destoar do resto da mobília, focado no meio do desfoque que é a
minha vida, especado a olhar para mim – olhos nos olhos, braços ao longo do
corpo – eu vi. Vi-te. Vi-me. Vi-nos.
Não
é suposto o mundo parar quando encontramos o impossível no meio do possível.
Quando não estamos à espera, quando achamos que não somos capazes de tocar em
algo e, de repente, sentimos o roçar desse “algo” na nossa pele. É o que se diz…
Que deixamos de ouvir tudo à nossa volta, deixamos de dar atenção aos demais, e
só vemos aquela pessoa. O impossível no meio do possível. O homem da máscara
que, finalmente, a deixa cair em cima da lama. A troca de olhares. E o passar
ao lado.
É
esse o problema da humanidade. Passamos ao lado daquilo que nos faz bem,
daquilo que desperta o que há de melhor em nós, para corrermos para algo mais
fácil. Só porque aquilo que nos deixa mais feliz nos dá luta. De que serve
chegar ao final da maratona se não sentimos o suor a escorrer-nos pela testa, a
adrenalina a ferver-nos no sangue?
Oh.
É o esfervilhar do sangue e o palpitar tresloucado do coração acompanhado com o
esvoaçar aleatório das borboletas no estômago que dão vontade de continuar. De
tentar agarrar a chance antes de lhe passarmos ao lado.
Ainda
és a minha mistura de água e azeite. O meu caminhar na Lua sem usar o capacete
de astronauta. A criança que não chora e a pessoa que não sofre. O impossível.
Mas também és o meu olhar para os Céus e a contemplação das nuvens. O ir para a
cama, pousar a cabeça, e adormecer nesse segundo. A mistura de um pastel de nata
com um café. Um andar à chuva sem ficar doente. Um mergulhar na escuridão e
emerger na claridade. O possível.
Olhaste
para mim.
Gostava de olhar para mim e encontrar-me como tu te encontras nas palavras, que bem que escreves e quão incrivél e forte são cada palavra que citas... Céus!
ResponderEliminarTexto incrivelmente forte.
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