Puseste-me
ao teu bolso sem eu me aperceber disso. Escondeste-me lá durante anos, sem eu
saber onde estava. No meio da escuridão, perdi-me em pensamentos, em
sentimentos, em lágrimas e sorrisos. Nunca, em momento algum, soube que ali
estava. Fui vivendo a minha vida, como se nada se passasse, até um dia, de um
momento para o outro, me aperceber que não a estava a viver da maneira correta.
Que me ia perdendo por olhos incertos, que me envolvia em braços que não se
encaixavam no meu corpo, que moldava os meus lábios em lábios… que não eram os
teus. Um dia qualquer, numa hora qualquer, apercebi-me.
Apercebi-me no meio da escuridão do teu bolso que aquela era a minha realidade –
uma escuridão, escuridão essa que me tinha andado a tapar os olhos de ti, e
daquilo que representavas.
Perdi-te
a partir do momento em que deixaste de ter um rumo certo. No dia em que te
tiraram o chão, tiraram-me também o meu. Tens deambulado pelo mar,
qual pirata com um sentido de aventura adormecido, que espera encontrar o
tesouro sem usar um mapa que o guie até um. (Deixa-me
ser o teu tesouro). Partiram-te os ponteiros da bússola, e deixaste de ter
noção de qual é o teu Norte. (Deixa-me
ser o teu Norte). Arrancaram-te as asas, (Deixa-me ser o teu paraquedas) e atiraram-te para um poço sem fundo
(Agarra-te a mim).
Nunca
me apercebi que te tinha até ao dia em que mo esfregaram na cara. Em que uma
ventania agressiva se esbateu contra o meu rosto, empurrou o meu corpo para
trás e eu senti que o meu destino tinha estado
sempre ali, tão perto. Tão longe. Andei
a pontapear-te, porque na realidade não podias dar-me a mão (Dá-me agora). Disse-te para ires
embora, embora nunca tenha verbalizado tais palavras. Acenei-te, virei costas,
e fui embora. Até uma corda invisível me puxar novamente para trás.
É
tempo para te libertares. Para dares uma oportunidade a quem foste, e
continuares a sê-lo. Veleja sem destino certo, mas usa um mapa. Segue o teu
rumo, mas conhece-o. Voa, mas não para longe.
Tira-me do teu bolso, e junta-me à tua mente.
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