quinta-feira, 18 de outubro de 2012

doença do pensamento


Ninguém dorme em silêncio. A noite não deixa... Quando achamos que, depois de um dia stressante e que nos deixou de rastos, vamos finalmente descansar, enganamo-nos redondamente. Deitamo-nos, fechamos os olhos, e é aí que o mundo inteiro nos decide berrar aos ouvidos. É aí que todos os pensamentos dos quais nos livrámos durante todo o dia voltam a irromper pelos nossos ouvidos e a mostrar-nos a realidade da qual nos abstraímos por umas horas. Por isso, para quê dizer que dormimos em silêncio? Podemos afirmar que dormimos com a porta fechada, ou com uma luz de presença, ou até de janela aberta mas nunca, nunca em silêncio. É mentira, a mais pura de todas elas. Todos nós somos embalados ao som dos nossos receios, medos, desejos, e esperanças. Ninguém consegue fechar os olhos em paz, porque não fomos talhados para tal. Por mais que tentemos, nem o maior e mais forte comprimido do mundo é capaz de curar a doença do pensamento. Ele pode ser mais leve, pode sussurrar, ou pode até ser uma repetição mental de bons momentos pelos quais passámos. Só que nunca é silencioso - está sempre lá, na esquina, à espera do nosso "momento de reflexão". E quase sem darmos por isso, somos agarrados à porta do Além, raptados pela nossa própria mente e só conseguimos ser salvos pelo João Pestana. Isto é, se lhe apetecer salvar-nos.
Ninguém consegue dormir em silêncio.

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