domingo, 11 de março de 2012

insanity

Mergulhei no precipício para que me pudesses salvar. Tinha de arranjar forma de chamar a tua atenção, de dizer silenciosamente estou aqui!, e só assim o consegui. 
Quando estava em cima do prédio e a olhar lá para baixo, a ver os carros a passar, comecei a  ter noção de que ninguém estaria à espera de ver uma andorinha se espetar no meio do seu caminho àquela hora da noite. É tempo de toda a gente estar aconchegada no seu berço, é tempo de os amantes se encontrarem, é tempo de sonhar, é tempo de dar amor. Mas para mim, é tempo de te querer. Como quero a todas as horas que passam... Claro que sentia o estômago aos saltos e tinha medo. Mas eu confiava no teu instinto, e saberia que sentirias quando eu deixasse a insanidade colocar-me um pé à frente. Fechei os olhos e deixei-me levar. Não foi como costumam dizer, a vida não me passou pelos olhos, muito pelo contrário! Não consegui pensar em nada. Era como se tivesse carregado num botão de pausa no meu cérebro e tudo o que aprendi, tudo o que passei, tudo o que vivi, tinha desaparecido por completo. Sentia a força da gravidade me tentar impedir, mas naquele momento era impossível. Mas eu sentia-me bem... Talvez se não conseguisses chegar a tempo, alguém sentisse a minha falta. Talvez tu sentisses a minha falta.
Não sei se isto é um adeus porque não tenho a certeza se estou a sonhar. Mas se não estou, peço-te desculpa. Tu é que me levaste a isto. Decidi deixar-te este bilhete para te dizer que te amo. E não vale a pena correres, porque eu sou sincera, se isto é real, eu achei estar a sonhar. E neste momento as minhas asas já podem não ser nada. Desculpa.
As sirenes começaram a tocar muito alto e eu acordei. Olhei pela janela do quarto e vi um carro completamente despedaçado em frente à minha rua. Saí cá fora rapidamente e corri para o local, que já estava apinhado de gente. Uma pessoa tinha-se atirado de um prédio e quando o condutor do carro viu o corpo no meio da estrada descontrolou-se e o pior aconteceu. Fiquei com uma sensação estranha, porque depois de ter aquele sonho parecia conhecer tudo aquilo. Aproximei-me mais e perguntei a um polícia quem era a pessoa que se tinha assassinado. E ele disse-me. Literalmente. Disse-me. Da boca dele saiu o meu nome, primeiro e último, sem tirar nem pôr. Desviei o meu olhar para o corpo sem vida estendido no meio da rua e fitei a pessoa que estava ajoelhada ao seu lado. Ao meu lado... E desejei nunca ter tido a capacidade de sonhar. Eras tu, e era eu. Éramos nós. E eu fui embora, sem dar por isso.

3 comentários: