domingo, 10 de outubro de 2010

letter number 18: to someone I wish I could be

estava no meio da rua, sentada numa cadeira de praia à chuva; mas ao mesmo tempo estava no cume de uma montanha a sentir o mar acariciar-lhe os pés.
tinha um papel na mão e escrevia, não sei do que se tratava, mas uma coisa em que eu reparei é que no meio daquela chuva o papel não se molhava, e o vento do cume da montanha não o roubava.
o cabelo castanho escuro chegava-lhe ao fundo das costas, os olhos verdes deleitavam com a chuva, e o barulho da dor era confundido com o barulho da chuva a cair sobre os telhados das casas que estavam por perto. tinha a pele branca como neve e a sua suavidade notava-se ao longe. tinha um brilho inconfundível no seu próprio ser, que é impossível de explicar. quando os seus lábios se entreabriam ouvia-se uma melodia perfeita, mas ao mesmo tempo capaz de cortar cabeças. tinha uma voz forte, e o seu olhar era doce, inocente... mas ao mesmo tempo feroz. as suas pestanas eram enormes, escuras e faziam lembrar pestanas de boneca de porcelana. mesmo à distância a que estava dela, e sabendo que eu lhe era invisível, sentia o seu poder sobre qualquer corpo que passasse. o seu cheiro a morangos entranhava-se-me nos poros, e fiquei com uma enorme vontade de ler a que tanto aquela rapariga se entregava no papel. de repente, como se me visse, levantou-se. olhou na minha direcção, mas eu percebi que nada via além do mesmo de sempre: um céu escuro, sem estrelas nem a lua. embrulhou o papel numa bola, esticou a mão direita e soprou-o. como se fosse para mim... e desapareceu. senti algo na minha mão. que magia era aquela? desembrulhei aquele papel amachucado com aspecto antigo e este encontrava-se em branco, mas depois de piscar os olhos vi as palavras aparecerem-me à frente conforme eu as ia lendo, palavra a palavra.
sei que não sabes o meu nome. mas eu também não sei o teu; só sei que quero que saibas que tu és eu. ou melhor, eu sou tu daqui a muito, muito tempo. mas não te aflijas. nada disto é fora do normal. toda a gente conseguirá ser quem quer, e tu não serás excepção, minha alma vagabunda. terás coragem para enfrentar mil e um animais ferozes, portanto, também terás coragem para seguir com a tua vida em frente e fazer e dizer coisas que nunca pensaste que serias capaz. a tua paciência não terá limite, os teus sonhos vão aparecer, e a tua felicidade também. já sei sobre o que te estás a perguntar agora, meu pequeno eu. e a resposta que tenho a dar-te é que sim, a tua inspiração será maior que a de todos os poetas conhecidos do mundo. terás vontade de despejar os teus pensamentos no papel a todo o momento. mas terás de ter cuidado nas tuas escolhas, o mundo do futuro não é fácil e foi e será muito difícil chegar onde estamos agora. simplesmente deixa-te viver, com as tuas normais preocupações. a tua consciência tratará de te avisar quando o cuidado tiver de trabalhar no teu pensamento. voltando ao mesmo assunto: a tua simpatia será contagiante, o teu coração baterá mais do que os de mil homens apaixonados pelas suas damas, a tua leveza será angelical e o teu carinho nunca desaparecerá. para já, sê quem tu és e deixa o resto com as horas que passarem.
até breve.

então - devo perguntar-me agora - a perfeição existe? não é que esta descrição seja realmente a perfeição, mas para mim basta-me. basta-me tudo isto que não é muito, mas que também não é pouco. a única coisa que posso fazer é sentar-me numa cadeira de praia à chuva e deixar que a terra absorva as minhas lágrimas... ou então escalar a montanha mais próxima e deixar que os meus pés brinquem com a água do mar. ou, sei lá. deixar-me levar pelo tempo e passá-lo a olhar para o meu relógio de pulso: não posso fazer batota, por isso não o devo adiantar. o tempo que todos vivemos já é pouco, por isso seria um erro da minha sanidade fazê-lo. resta esperar, esperar...

e esta carta foi dirigida a mim própria... mas um pouco diferente.

10 comentários:

  1. l-i-n-d-o.
    sê sempre quem tu és, haverá sempre que alguém que gosta de ti.

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  2. ela é maravilhosa não é? LINDA *

    esta carta está linda, profunda e com uma escrita encantadora. gostei querida *

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  3. o dom da palavra é uma das tuas grandes dádivas, sem dúvida!
    adoro *

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  4. enfim, eu já nem quero saber :s

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  5. muito bem fabiana, gostei :)
    e a musica tambem :)

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  6. podes crer que deve sempre e a minha amizade com ele não voltou a ser a mesma mas continua e isso sim é importante.

    quanto ao post/carta .. está muito bem escrito mesmo. Gostei imenso :')

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  7. lindas palavras msm. .
    desculpa a indiscrição mas ond eu encontraria essa foto?

    beijoo

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