segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

bye


estava contigo pela mão, íamos a correr no meio da estrada, juntos, perto, muito perto. eras como um vulto para os que estavam de fora. estavas duma cor transparente, incolor; mas para mim eras mais que colorido, via-te nitidamente, como se fosse tudo real. seria?
estavas a sorrir para mim, mas estavas longe. era um sorriso forçado, como se fosses obrigado a estar ali a meu lado, como se apenas os meus dedos te prendessem a mim.
estavas indolor, como se fosses uma sombra perdida na estrada. os carros passavam por ti, e nada te faziam, não te magoavam, não te desfaziam. trespassavam-te como se fosses uma poeira, como se não fosses ninguém, e continuavam o seu caminho. sentia as tuas mãos mais suaves que nunca e apertavam as minhas como se tivessem demasiado frio. eu sentia os nós dos teus dedos, um por um, entre os meus. estavas perfeito, como um Deus.
mas do nada, largas a minha mão, e começas a correr no sentido contrário. eu parei, e chamei por ti. chamei, chamei, chamei, mas ignoraste; a minha garganta doía quando comecei a correr sem saber para onde ia, apenas olhando para à frente à espera de ainda te ver e de poder seguir-te, como uma uma ave de rapina persegue um coelho. mas por fim, já não estavas lá, tal como se tivesses desaparecido dentro de um carro. ouvi buzinas vindas de todo o lado, mas ainda assim continuei a correr, a correr, a correr. mas não bastou. e tal como quando o rato tenta fugir quando entra na ratoeira, eu corria para além do precipício que aparecera à minha frente, (talvez mais como uma barata quase morta do que como um rato) mas a força dos meus pés não bastou para me manter no ar. caí. fechei os olhos. o que é que se estava a passar? mas que era tudo isto? comecei a ouvir o som de um piano, uma música familiar. de onde conhecia tudo isto? mas também, para quê pensar se sei que daqui a nada tudo acabava? que daqui a nada sou reduzida a pó pelos peixes que se encontram à espera do meu corpo morto no fundo da cascata?
mas eu reconhecia a música. eras tu e apenas tu que a tocavas às vezes para mim, naquelas noites em que passávamos o tempo a dar festinhas ao gato e a beber café, como se o dia seguinte fosse um nada, e não modificasse as nossas vidas. e de repente, silêncio. tudo preto. tentei abrir os olhos, mas apenas via o escuro. não havia mais nada para além disso, escuro. mas eu continuava consciente, estava à espera de acordar, mas isso não acontecia.
amor, estás aí? ajuda-me, tira-me deste poço sem fundo. tira-me daqui, puxa-me para ti.

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