Quando
dei por mim já era tarde demais. O sentimento já me tinha consumido como as
chamas queimam a lenha nos tempos invernosos, e esse mesmo sentimento também me
aquecia o coração, apesar de novo e refrescante. Tentei combater o que parecia
inevitável, mas tendo-me esquecido de usar um escudo de ferro, acabei por me
render e ajoelhar-me perante o que ali vinha. Tinha travado uma batalha a que
sabia não puder escapar, mas ainda tinha uma pequena centelha de esperança que
me guiava os passos. Esperança essa que foi igualmente apaziguada pelas chamas
que haviam deflagrado no meu peito quando, a meio da batalha, um atirador
acerta prontamente uma seta no meu coração.
Nunca
estive à espera nem sequer imaginei que iria fazer parte desta guerra: é quando
menos se está à espera que as coisas acontecem. De um segundo para outro –
entre os quais alguém nasce, alguém morre, alguém se sente a pessoa mais feliz
do mundo, alguém chora, alguém ganha a lotaria, alguém conhece o amor da sua
vida, alguém tropeça, alguém se despede, alguém atravessa o país, alguém
aprende a nadar ou a conduzir, alguém tem um acidente, alguém acorda, alguém
adormece, alguém berra, alguém embala o seu bebé, alguém canta, alguém encanta –
fui enfeitiçada. E chamar esse alterar da nossa vida e da nossa forma de estar de
feitiço nem sempre é bom, principalmente quando é visto ao mesmo tempo como uma
maldição. A dor de pensar será sempre superior à dor de sentir, mas quando os
pensamentos se sobrepõem aos sentimentos, a maldição é ativada. Vemos um
sublinhar vermelho em todos os atos menos bons, em frases escritas rapidamente
quando se está com pressa, em olhares vazios, em toques estranhos. Mas é aí que
tudo começa a ruir, tijolo por tijolo.
Há
que ter a capacidade de olhar para trás e agarrar-se a tudo de bom que se viveu.
Quem gosta consegue adaptar-se e reconstruir aquilo que, pouco a pouco, foi
caindo. Quando a seta atravessa o peito, não há maneira de voltar atrás. Não há
como curar a ferida deixada na pele, e a cicatriz no coração. Não vale a pena
sequer imaginar como seriam os dias se aquilo não tivesse acontecido. Há que
levantar a cabeça, deixar de ter a mania de olhar para os pés enquanto se anda,
e caminhar para a frente. Ser forte. Dar razões ao amor para ser chamado de “amor”.
Pontapear as dúvidas, e aproveitar aquilo que a outra pessoa tem para nos para dar, à
maneira dela. Deixar-se cair no precipício, sabendo que vai estar lá em baixo alguém para nos apanhar.
Porque caminhar é viver, e amar dói sendo a maior alegria.
ResponderEliminarMestres e senhores de nada, sentindo tudo com a maior força do mundo.
Vive, não te limites a existir de armadura contra tudo. Vive.