Enquanto
dormitava numa tarde de Domingo, o clássico passava na televisão, a família
conversava, e de forma desconfortável eu ia viajando no sofá laranja da cozinha
da casa da minha tia. Vagueava pelo mundo dos sonhos como tanto gostava de
fazer, desde que não fosse arrastada para o abismo da escuridão, onde fujo dos
meus próprios demónios sem sequer me lembrar de os afugentar com alho. Não sei
se é cientificamente comprovado, mas sinto que se sonha muito mais numa pequena
sesta de meia hora do que numa noite inteira de sono profundo. Vive-se
intensamente uns cinco minutos que se relembra numa vida inteira. Por vezes
desvanece-nos da memória, aqueles breves momentos, mas nós sabemos que eles
estão ali. Frenéticos, ansiosos por se fazerem sentir na memória e avassalarem
o mundo.
Naqueles
escassos minutos, ainda relembro... Aquela sensação ainda me eriça cada pêlo de
cada centímetro do corpo: está ali, a abanar-me, a chamar-me a atenção.
Lembro-me de uma voz, acompanhada por essa necessidade, a ecoar-me na cabeça "Tenho
de lhe dizer que o quero abraçar"... Mas sei agora que não é isso que
posso fazer. Não é isso que quero. Não é correto para ele, nem para mim, e é
por isso que tenho que abafar um sentimento ridículo como este, e ir vivendo
como tão bem sei: a apreciar a sensação de vazio. A esperar. A ansiar
que chegue a minha vez de dar um passo em frente, mas na direcção certa.
Há
alturas na nossa em vida em que sentimos um estagnar no meio do desequilíbrio,
porque os altos e baixos já não fazem valer a pena. Sentamo-nos à janela à
espera que a chuva passe. Sentamo-nos à varanda à espere que o sol desapareça.
Não existe o meio-termo em que se aprecia as gotas de chuva escorrerem-nos pela
cara a tirar a vez às lágrimas, nem a altura em que nos apraz ter o sol no
pensamento e o sorriso no rosto. Vai-se vivendo, dando importância aos pequenos
e grandes momentos, mas do lado esquerdo do peito pouco se faz ressentir com a
intensidade que nos faz querer amar a toda a hora - às três da manhã ou cinco
da tarde.
Amar.
Amar. Amar. Dize-lo tantas vezes faz soar mal. Amar. Amar. Amar. Que
palavra tão estranha.
tão bom ler cada palavra que escreves. surpreendes-me sempre, sempre. cada vez escreves melhor!
ResponderEliminarmaravilhoso ler-te, cada sentimento deixa-me fora de mim.
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