Três horas da
madrugada. Abro a gaveta para guardar o comando da televisão que raramente
utilizo e reparo num objeto que já há muito não via. Está ali, bem escondido,
já faz quase dois anos. O momento em que guardei aquela pulseira na gaveta
marcou uma nova etapa da minha vida. Até ali, eu tinha vivido só e apenas para
ti. Não conseguia amar mais ninguém – a verdade é que, infelizmente, já tinha
tentado, e vários danos causei por causa disso; só te via a ti. Os meus dias
desenrolavam-se devagar, a passos de bebé... Estavas longe fisicamente, e esse
sempre foi o meu maior sofrimento. Mas a partir daquele dia, e até hoje, um
oceano separa-nos. Na última vez que te vi, achei que ia morrer: a minha vida
ficara ali, naquele lugar espirituoso. Os momentos que considerei mais
importantes foram ali enterrados, e lá ficarão.
Sempre achei que
nunca conseguiria ultrapassar o que tinha contigo. No meu ente, sentia que não
era capaz de amar mais ninguém como te amei a ti (e aqui vai um segredo: não é
que não amei mesmo mais ninguém como te amei?). Neste tempo que passou, o
sentimento foi perdendo a força. Os nossos navios velejaram para diferentes
rumos e, com eles, a nossa ligação. Nada é como antes: o que tínhamos mudou, a
nossa vida mudou, nós mudámos. Posso agora dizer com certezas, que agora que
olho para aquela pulseira, para tudo o que escrevi para ti durantes anos e
anos, e são só lembranças. Recordações de um tempo no meu percurso de vida
que me enchiam o coração e quase o faziam rebentar – porque, na realidade, era
assim que me fazias sentir. E tenho pena que ainda não tenha conhecido ninguém
que, depois deste tempo todo, conseguisse fazer o que tu me fizeste. Foste o
meu pilar, mas os ventos levaram-nos para longe um do outro.
Nos dias que correm,
já afirmo com avidez que aprendi a viver sem ti. Foi difícil, mas consegui. E
se consegui desapegar-me de ti, consigo fazer tudo, inclusive voltar a subir a
cumes de montanhas para gritar sobre o sentimento. Um novo, refrescante, e
marcante amor. Porque quem somos nós sem amar? Vagabundos. Almas que vagueiam
pela Terra sem saber que direção seguir. Zés-ninguém com cara de sonolentos que
nada mais anseiam que o belo conforto da sua cama – mas não é tão bom deitar a
cabeça e lembrarmo-nos da imagem de alguém a sorrir-nos? Amar tem a capacidade
de nos tirar tudo, mas é também esse vocábulo que nos dá sentido à vida.
Três horas e um
minuto da madrugada. Fecho a gaveta e vou dormir.
"Porque quem somos nós sem amar? Vagabundos. Almas que vagueiam pela Terra sem saber que direção seguir. Zés-ninguém com cara de sonolentos que nada mais anseiam que o belo conforto da sua cama – mas não é tão bom deitar a cabeça e lembrarmo-nos da imagem de alguém a sorrir-nos?" adorei fabiana, e encontrei muito de mim neste teu escrito, foram tempos difíceis, em que o tormento de não ter quem era, naquele momento, a minha vida. a vida que deixei ficar para trás uns longos meses, talvez anos. mas o rumo encontra-se velejando, e eu tenho a certeza que encontrarás alguém cujo vento soprará na mesma direção, e aí, tudo o que ficou para trás teria de ter ficado. beijinho
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