terça-feira, 14 de agosto de 2012

mendigo emocional


Quem a observa todos os dias a sair de casa, de auscultadores nos ouvidos, mala no ombro e sorriso rasgado nunca imagina o que se passa dentro da sua alma. Exteriormente, parece que quase nada lhe acontece: que não há maneira de a fazer cair no chão. Quase nada. Se nos aproximarmos como quem não quer a coisa, com pezinhos de lã, vemos que isso não é real. Os olhos estão inchados, o cabelo despenteado, o rímel borratado, e os suspiros são o que mais se ouve sair dos seus lábios. A música que lhe passa nos ouvidos não é de felicidade; muito pelo contrário - traduz o seu estado de espírito.
Por muito forte que pareça, não é nada mais que uma adolescente. Apesar de não estar só, sente-se só. Mesmo tendo motivos para sorrir com vontade, não tem paciência para o fazer a toda a hora. Só lhe apetece trancar-se no quarto, fechar as janelas, e dormir sempre. Não há mais nada que a cative a não ser refugiar-se em mundos que não são o seu... Espera a toda a hora algo que nunca vai chegar. O coração transborda de esperanças e dúvidas ao mesmo tempo.
O que é que uma pessoa deve fazer quando é deixada na corda bamba? Não há um fio condutor de pensamentos certo que possa seguir. Só lhe resta esperar. E não é esse um verbo que deve ser praticado continuadamente e que, por mais que nos custe, cabe a toda a gente? Umas vezes, o nosso pequeno órgão propulsor não aguenta, outras vezes fica mais fraco... Mas nunca, em circunstância alguma, sai ileso. É como se lhe fôssemos acrescentando cicatrizes aos poucos e poucos. E elas não o marcam só a ele: consequentemente, nós próprios mudamos. E ao longo dos anos, ela mudou, e muito. Mas houve apenas uma coisa que ela nunca conseguiu aprender realmente: a lutar contra os sentimentos, a defender-se dos seus ataques e a calcá-los para bem fundo. E quem não é dotado dessa capacidade, será um mendigo emocional para sempre... Até encontrar quem lhe dê não uma esmola, mas a mão.

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