terça-feira, 17 de janeiro de 2012

regresso

Estava a chover torrencialmente quando eu entrei em minha casa e os meus olhos combinavam com o tempo lá fora. Esqueci-me de trancar a porta e deixei-a fechar levemente atrás de mim, tirei a gabardina encharcada do meu corpo e atirei-a para o chão ferozmente. Descalcei os sapatos atirando-os um para cada ponta da sala e fui até à cozinha beber um copo de água. Além de o Céu combinar também com o meu estado de espírito, tudo em mim transpirava trovoada e relâmpagos. Éramos assim, eu e o mau tempo, amigos de longa data.
Depois de ter fechado a porta do meu apartamento, tinha deixado uma etapa da minha vida lá fora, completamente enterrada no meio da lama. Despi a roupa, a qual deixei no meio do chão da cozinha e fui até ao quarto. Abri as janelas para ouvir bem a chuva, mas fechei as cortinas. Recostei-me na cabeça da cama, juntei os joelhos ao peito e fechei os olhos: nesse momento, a pressão da fonte que surgia deles, aumentou. Todas as minhas muralhas tinham desabado, e agora até uma fisga era capaz de fazer abanar o meu castelo de palha. Eu própria estava presa por um fio... Qualquer abanão, ao de leve, era capaz de me pôr abaixo
As gotas a cair no chão acalmavam-me. Faziam-me recordar que, tal como muitas daquelas gotas encontraram novamente o caminho para casa - visto que eu morava perto do rio - também eu havia de encontrar o meu. Por mais tempo que demorasse, eu iria conseguir. 
Quando começou a escurecer, ainda eu permanecia naquela posição de estatueta, sem mexer um músculo visivelmente. O único músculo que realmente mexia em mim, sem parar, constante e loucamente, era o que trabalha do lado esquerdo do peito. Incansável. Aguenta a minha carcaça dias e dias sem uma única reclamação.
A chuva acalmara, mas o meu batimento cardíaco não lhe acompanhou o ritmo. Desta vez, o meu coração parecia querer sair-me disparado pela boca, sem me dar tempo para um último fôlego. Foi aí que o vento começou a soprar e as cortinas a voarem que nem umas loucas. Levantei-me e fechei a janela, e nesse momento a campainha tocou. À pressa, meti os cobertores em volta do meu corpo e corri até à porta da entrada; quando espreitei e vi quem era todas as paredes que restavam do meu forte caíram, fazendo um enorme estrondo. O meu coração disparou, e eu senti o sangue quase a fugir-me das veias. Abri a porta de rompante e nem tive tempo para olhar para ti. Abraçaste-me fortemente e nesse momento tudo em mim acalmou. As lágrimas cessaram e a nostalgia apoderou-se de todo o meu corpo. E enquanto eu dava graças por estares ali comigo e inspirava o teu perfume vezes sem conta para nunca o conseguir tirar das minhas entranhas, tu repetias vezes sem conta Não me vou embora.

4 comentários: