sexta-feira, 8 de abril de 2011

a máscara da felicidade deixa-nos cegos

Há dias em que nos sentimos os reis do mundo, sentindo a altivez momentânea a evaporar pelos poros. Sabemos que deixamos um perfume de importância por todas as ruas em que passemos e que, sem excepção, toda a gente sabe quem somos, o que fazemos, do que gostamos e o que ambicionamos; mas há também outros dias em que achamos ser os mendigos que vemos à porta do mercado, onde estão faça chuva ou faça sol, de mão erguida, por vezes com um quadrado de papelão mentiroso a arranjar motivo para que lhes larguem um centavo de caridade na palma. Achamos que qualquer que seja a meteorologia local, o nosso estado espírito está em baixo mas que, se alguém com um doce coração nos dá um sorriso, o sol começa a brilhar mais forte e a alma renova-se, qual rolo de papel higiénico quando acaba e alguém se dá ao trabalho de o trocar.
Há dias em que qualquer pontapé que nos dêem, por mais mísero que seja, é tão forte que é capaz de nos fazer perder a estabilidade e atirar-nos ao precipício. Uma palavra no momento errado, um olhar mal encarado, um suspiro nos intervalos de confissões são outras tantas coisas que, em dias como este, são mal interpretados e podem levar qualquer âmago à ruína, se nos tocar bem lá no fundo e de forma a provocar tal destruição, que ela se alastra pelo resto do corpo.
De quando em quando, faz bem sentirmo-nos assim: para nos apercebermos de possíveis erros que, quando tínhamos a máscara da felicidade estampada no rosto, não conseguíamos detectar, para darmos valor ao que naquele momento não temos nem podermos ter, entre outras coisas.
Mas não nos parece um futuro tão bom aquele em que nos vemos a saltitar com um sorriso de orelha a orelha e a espalhar alegria como se fossem pózinhos mágicos? Só que o grande problema, o que tanto deve dar dores cabeça aos filósofos, é que os que estão sempre felizes vivem num mundo à parte. Há que sublinhar que o nosso mundo não é - de todo - feito de arco-íris e flores à mistura, não é só doces sabores e sons bonitos. É feito de injustiças e dos que fazem que não vêem, dos que deixam passar ao lado e não se importam porque o que é mau não lhes toca na pele. E é por isso que existem os tais momentos em que nos sentimos os mendigos da praça, os zés-ninguém sem vida e sem destino.

9 comentários: