sábado, 20 de novembro de 2010

relato: (in)justiça

Às vezes penso que acham que estou louco. Olham-me de olhos esbugalhados e eu vejo que mexem os lábios. Mas é tudo em vão. Eu não irei quebrar o meu silêncio - pois ele combina com o que ecoa nos meus ouvidos. Não sei para que se incomodam a incomodar-me; eu gosto de estar sozinho. Sinto uma enorme paz dentro de mim, sinto-me puro. Nunca fiz mal a ninguém: a não ser a alguém que esperasse uma palavra da minha parte. As minhas mãos não param de tremer... nunca pararam.
Antes de pôr a mão ao bolso e tirar o meu bloco de notas olho para todos os lados. Eu sei que existe sempre alguém a observar-me, há câmaras em cada canto, mas é só para me sentir melhor. Pois, é verdade. Estou retido numa casa... e já faz alguns anos, acho eu. Pelo menos parece-me ter passado muito tempo. A única coisa que me ouve, que sabe como me sinto, é o meu bloco de notas. Sei bem que quem aqui manda anda mais louco do que quanto o me acha, à procura destes pequenos pedaços de papel sem valor. Ele acha que eu sei algo que mais ninguém sabe, sinto-o no seu olhar. Mas isso excede-me. Eu não sei nada para além do que conheço. Sempre vivi na solidão das palavras, e, de um dia para o outro, arrombam-me a porta, fazem-me refém e trazem-me para aqui. A partir desse dia, tentei abstrair-me do resto do Mundo ainda mais do que antes, porque sei que não vou sair daqui com a minha mente sã. Só espero que encontrem isto em que escrevo daqui a alguns anos, e façam do que eu digo, história.
Agora não devem faltar muitos minutos até um encapuçado entrar aqui, com uma faca, e tentar arrancar-me palavras que nunca direi em troca de pedaços de carne a não tirar. Mas de que me servirão eles no fim? Mais vale matarem-me já e agora.
Porque eu, não sei nada.
Nem o meu nome. Nem a minha idade.
Mas não me importo.

28 comentários:

  1. adorei este texto. tantas pessoas são marcadas com isto, tantas pessoas ficam como este ser. dói, imenso. *

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  2. Adorei mesmo querida, que grande relato !

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  3. é bem verdade. mas é ao sofrermos que damos valor ao que é a felicidade. se fossemos felizes sem esforço, não daríamos valor a tal coisa. não é?

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  4. é o pior de todos!
    ahah obrigado f, não está nada de especial, e eu digo-te quem é o tono digo u.u
    ly ♥

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  5. Exacto, tenho a mesma opiniao que tu, qualquer dia torno a nao pensar nisso (:

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  6. é c as derrotas q damos valor às vitórias minha querida **

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  7. se ñ sentirmos o sabor amargo da tristeza, nnca daríamos valor ao doce sabor da felicidade. e eu acredito minha querida, que quando a felicidade voltar, me saberá bem melhor :)*

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  8. o que vale é que tudo passa e isto não foi excepção :')

    está forte mesmo e compreendo-te perfeitamente. Quando estamos tristes achamos sempre que o melhor é isolarmo-nos e escrever até não poder mais ficando também com a mania da perseguição e quando chega a este ponto há que tomar uma decisão. Ve a luz, deixa-a iluminar-te e vai em frente :')

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  9. obrigada eu, alias, amo muito o teu post. zx

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  10. roubas-me as palavras com textos destes!
    está lindo, está profundo. bem típico teu *

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  11. é mesmo, só pensamos naquela pessoa, a todos os segundos.
    obrigada querida, ainda bem que gostas-te.
    como já disse, adoro todos os teus posts. *

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  12. temos é de aprender a viver com essa verdade.*

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