sábado, 6 de novembro de 2010

depois

abro a porta de casa com a maior rapidez que o meu corpo me concede. atiro os sacos das compras para o chão sem cuidado algum em ver onde eles vão parar. vou directa ao frigorífico, abro-o e o meu olhar passa freneticamente por todo ele. pego num pacote de leite, e bebo-o de rajada, gole após gole, sem respirar.
as lágrimas escorrem-me pelo rosto abaixo e caem no chão - são negras. ao aperceber-me disso, esqueço tudo e vou ao espelho do corredor. tenho olheiras demasiado carregadas, olhos encovados, estou completamente esborratada e os meus olhos estão raiados de sangue. sinto-me fraca.

ignoro a minha imagem como se fosse algo natural, e ligo o rádio... mas a única coisa que ouço é o som da tua voz a despedir-se. a despedir-se para sempre. deixo-me cair no sofá, sem forças, e continuo a ouvir-te, tentando decorar-te o timbre. mas quando me apercebo que já é tarde para esse tipo de coisas, levanto-me e vou para o quarto. olho para as mesas de cabeceira e só vejo fotografias nossas. olho para as paredes, e só vejo quadros pintados por ti. olho para a caixa em cima da televisão, e relembro que o que está dentro dela são cartas que me escreveste. olho para lá para fora e já sinto a tua ausência. olho para dentro de mim própria e só sinto a falta que me fazes.
atiro-me para cima da cama e tapo-me debaixo dos lençóis. quero tentar abstrair-me do mundo, tentar deslocar-me deste e voar para outro qualquer. quero conseguir parar o meu pensamento que teima continuamente em mostrar-me a tua imagem e as tuas palavras que me desfazem o coração em pó de cada vez que as revejo; só tenho vontade de arrancar todos os meus cabelos um por um. apetece-me enlouquecer e não ter noção de nada. ir para a um manicómio e não ter a preocupação de tratar de mim própria. só queria não ter de existir. queria poder ser um pequeno ponto de grafite, para poder pegar numa borracha e apagar-me da face da Terra, para sempre.
fecho os olhos com toda a força que tenho e abafo os meus suspiros e soluços na almofada, como que com intuito de sofrer em silêncio. as minhas mãos fecham-se em concha à volta do colar que nunca tiro do pescoço com a inicial do teu nome. começo a tremer e o processo de revolta começa.
o meu cérebro pára, o meu coração desfalece e eu, a minha alma e todo o resto do meu eu entra em depressão profunda...

9 comentários:

  1. sinto-me assim dia atrás dia. tal e qual. como eu me identifico fabi. mas sabes? repito o que tenho vindo a dizer: adoro tudo o que deixas cá*

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  2. está lindo. Um dia vais estar com a cabeça enterrada na almofada e vai chegar um alguém, que te vai pegar na mão e mostrar-te um novo mundo.

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  3. a mim, derrete-me, emociona-me e faz com que me lave em lágrimas. sou sempre assim a ver filmes como o do Titanic *

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  4. não te posso mostrar nada novo, o meu mundo ja conheces.

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