terça-feira, 19 de outubro de 2010

letter number 21: to someone that I judged at my first impression

quem és tu? não conheço a pessoa em que te tornaste.
num dia amamo-nos mutuamente, quase somos irmãs. no outro o ódio irrompe-te pelas veias, não deixando um pedacinho sequer de boa vontade. nada de ti agora me vê como alguém em quem... não, melhor: nada em ti me vê como alguém. para ti sou absolutamente nada, e acho que não mereço isso. mas também sei que agora nada do que escrevo te interessa, nada do que escrevo dará algum resultado (e se der, não será dos melhores, mas enfim).
só quero que saibas que continuo a gostar muito de ti, mas um dia destes deixo de desculpar cada onda de raiva que tens por mim. não é que eu tenha realmente de desculpar, mas vou deixando passar em branco, como se nada tivesse acontecido. já não falamos à algum tempo, e eu sinto saudades tuas. mas isso também não me vale de nada. a única que coisa que me faz sentir é que sou uma fraca. em vez de fazer frente à realidade, vou-me lembrando do passado... naquele passado não tão longínquo em que estávamos perfeitamente uma com outra. unha e carne. e agora o que somos? para ti sou uma estranha. para mim, continuas a ser uma amiga. a única diferença é que já não é mútuo.
mas repito: eu agora não te reconheço. continuas a ter o mesmo nome, ou também o mudaste como te mudaste para comigo? tornaste-te numa desconhecida, a quem não vejo nenhum traço da antiga que conhecia. tu não te enquadras em quem és hoje! para onde foste? porque não te mostras? antes, achava-te uma pessoa fantástica, insubstituível, alguém de outro mundo. e agora? (...) não sei quem és tu, nunca te vi. será que sempre foste assim mas eu nunca notei? talvez seja só para quem odeias.
não sei bem porquê, não tenho provas, não tenho razões. mas sinto que lá no fundo, bem lá no fundo, ainda gostas de mim. sabes que às vezes desculpar faz-nos bem? desculpar sem mais nem para quê. simplesmente desculpar, e deitar o resto para trás das costas. eu ainda não aprendi a fazer isso, admito. talvez um dia o consiga fazer. e tu também.

3 comentários:

  1. as pessoas são mesmo assim, mudam radicalmente ao ponto de já nem as conheceremos, mas nem assim deixamos de gostar dela, porque nessas coisas o passado é sempre mais forte que o presente.

    lindo como sempre !

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  2. Mesmo liindoo, Manolita :)

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  3. entendo tão bem o que sentes . o que esta carta reflecte . estou de acordo com a Jo, afinal há muitas pessoas que mudam assim do nada .

    adorei, está magnifico *

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