quinta-feira, 2 de setembro de 2010

letter number 6: to a stranger

deste-me a mão e puxaste-me para os teus braços. dissolvi-me contra o teu peito, mas tu apanhaste-me os restos e juntaste-os na forma de um coração. beijaste-me a testa, as bochechas, o nariz, o pescoço, e fizeste-me sentir um arrepio que ia desde a ponta dos pés à ponta dos meus cabelos. eras branco como cal, mas quente como uma lareira. na posição em que estava sobre o teu corpo descontraído sentia-te o bater do coração, e acompanhei-lhe as batidas com o meu respirar. sinto os teus lábios abrirem-se para dizerem alguma coisa, mas fecho-os com dois dos meus dedos. não quis que dissesses nada para não me lembrar da voz - que imagino ser melódica e reconfortante - nos meus sonhos. para quê alimentar uma paixão por um estranho?
quando começaste a acarinhar o meu ouvido senti o mundo desfocar, deixei de sentir os meus pés assentes no chão, e dei por mim no meio das nuvens. comecei a percorrer o teu casaco de flanela até chegar aos teus ombros, e apertei-te mais contra mim. naquele momento sentia que não precisava de mais nada, de mais ninguém. sentia até que não precisava de ar para respirar. naquele momento foste tudo o que precisava naquele dia: um aconchego, um porto de abrigo, algo a que me agarrar para não escorregar deste globo onde vivemos e ir parar ao infinito, ou mais além. não pedi nada a ninguém, mas apareceste-me ali, sem permissão de entrada nem horário de saída. apareceste-me ali, como se fosses um anjo vindo do nada e percebesses que eu precisava de ti. quando te fosses embora eu ia esquecer-me de tudo mas ia sentir o coração preenchido e luminoso? era a pergunta que fazia o meu cérebro suar. mas acabei por me decidir e deixar de pensar nisso, apenas aproveitar a boa-vontade de um estranho que era mesmo estranho.
enquanto eu me aconchegava ainda mais no meu porto de abrigo, senti os teus olhos cravados em mim. eram límpidos, cor de amêndoa, e estavam cheios de uma tristeza profunda. só me apetecia perguntar o porquê, mas preferia guardar esta passagem como um filmes daqueles antigos silenciosos, mas sem 'legendas' depois das cenas. simplesmente imagens. imagens da minha mágoa a dizer adeus. não ia estar a pensar no que ele sentia, porque devia era preocupar-me comigo e em como iria ficar quando tudo aquilo passasse. enquanto pensava nisto, uma lágrima perdida cai-me sem querer e mancha o chão de tijoleira preta. um dedo forte e decidido limpa-me as antecessoras desta fugitiva e uma mão levanta-me o queixo. fitámo-nos. os teus olhos olhavam os meus, e os meus olhavam os teus. senti uma magia percorrer o nosso olhar e senti vontade de pegar em ti, pôr-te dentro da minha mala e ir para casa, para nunca mais ter de te deixar. mas fechaste-me os olhos como se faz a um morto que partiu a assistir a todo o filme de terror, e quando eu achava que os teus lábios se iam moldar nos meus, foste-te embora.

espero desesperadamente por ti, doce estranho. no mesmo sítio, à mesma hora.
com a mesma dor.

7 comentários:

  1. eu fico de boca aberta com a lindura destes textos que maravilhosos são e profundos também. escreves maravilhosamente bem Fabi, mesmo* gosto sempre de vir cá ler os teus novos textos (:

    adorei

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  2. Muito obrigada pelas tuas palavras Fabiana (:
    E tens razão no que disseste, devemos deixar as coisas andar, não pensar tanto no futuro, mas sim viver cada dia ao máximo.
    Quanto ao teu texto, está um verdadeiro doce *.*

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  3. adoro o teu texto, como sempre. visito-te regularmente á espera das tuas novas palavras :)

    e já agora, adorei o novo visual do blog.

    beijinhos

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  4. omfg , nao tenho palavras, escreves tão mas tao bem !

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  5. as tuas palavras tocam-me mesmo cá no fundo!
    é incrivel fabiana, é incrivel!

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  6. o blog está lindo com certeza (a)
    sabes que consegues fazer até os insensíveis ficarem com a lágrima no canto do olho, ahah.
    gosto de ti.

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