quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

conta-me sobre ti

e aquela voz irritante, que em vez de me sussurrar ao ouvido, me grita.. continua aqui. parece que gostou de mim, e continua a chamar por nomes desconhecidos cada vez mais alto, quase furando os meus tímpanos. é quase como uma voz delirante, com um pequeno toque de desespero. procura todos estes desconhecidos para mim, e impele-me em direcções nunca seguidas por mim. pontes de madeira que dão para florestas perdidas, caminhos constituídos à base de pedras que vão dar a nadas, elevadores que me levam para o último andar onde não está ninguém. não sou seguida, não deixo rasto. sei lá por que caminhos ando eu, em que sarilhos me tenho metido sem querer e sem notar. será que durante a noite também caminho por esses sete sítios como uma sonâmbula? será que já percorri mil e um lugares que nunca mirei de olhos abertos? secalhar conheço toda a gente do mundo e nem sei. será? a minha alma já não manda no meu corpo, e eu já não o consigo coordenar. tomou vontade própria. ou então? então? será que reside outra alma dentro de mim, uma alma sem corpo mas com um coração espontâneo que não consegue agir só por si? que percorreu milhas e milhas à procura de um corpo endiabrado, estranho e sensível como o meu? então, em mim existem duas vidas. mas se uma se vai, a outra segue atrás dela. continuarei a alimentar esta alma perdida, que procura o descanso na minha como se fosse o seu berço. vou viver por dois e para dois. em vez de comer uma maçã, como duas. em vez de comprar uma camisola, compro duas. em vez de ler um livro, leio dois! faço tudo a duplicar, como se esta alma realmente existisse. hum, não sei em que acreditar. que valho por duas? "mulher prevenida vale por duas"? será apenas isso?
so many questions, and no answers. pequena grande voz gritante, conta-me coisas de ti. conta-me o que queres deste mundo enorme mas ao mesmo tempo tão pequeno. fala-me dos caminhos que ainda pretendes percorrer, pois estou farta de acordar mais cansada do que como fico quando acabo os meus maiores dias. conta-me, conta-me! preciso de todos os pormenores sobre o que já viveste. será que vês o mesmo que eu vejo através dos meus olhos? ou vês um sol azul e árvores com folhas roxas? quando eu sinto dor, tu também sentes? quando eu choro, tu também choras? a nossa ligação é assim tão forte para que tudo isto seja possível?
faz com que os meus dedos escrevam todas as respostas num papel, se neste momento tiveres ficado sem voz. é que agora não te ouço, mas sinto-te. sinto-me preenchida e por isso tenho a certeza de que estás aqui comigo.
«leva-me para caminhos que apenas tu conheces. conta-me histórias. mostra-me canções. leva-me a ver o pôr-do-sol, pois nunca tive oportunidade de o ver. fui uma perdida, uma sem destino.. não andei por aí, sabes? apenas caminhava não sei bem para onde. vivia numa tristeza profunda, e não sabia o significado da palavra descanso. não chores mais meu anjo, não chores. só graças a ti é que ainda vivo, só graças a ti é que ainda aprendo. não chores porque me dás vontade de ficar lavada em lágrimas (que não são lágrimas). sê feliz porque eu também preciso de o ser. mas não o sejas por mim, porque tu também precisas bem de o ser.»

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