Perdera-se onde não havia mais rumo.
A neblina tapara-lhe a vista, não existindo uma luz que ela pudesse seguir para
se salvar do abismo para o qual se atirou como um peso morto. Ela sabia que a
culpa era sua. Que ninguém a empurrara. Ela própria foi-se arrastando, segundo
a segundo, até perder o equilíbrio e ser engolida por aquela escuridão – mas
sentia-se estranhamente confortável. Como se conhecesse aquele local. Será
possível sentirmo-nos em casa, quando estamos no meio do nada, numa miséria
emocional?
Deitou-se no chão, rendendo-se ao
nevoeiro que sentia entrar-lhe pelos poros e apoderar-se do seu corpo. A
escuridão começava a fazer-lhe cócegas no peito, tentando entrar pelo seu
coração. Foi aí que ela se apercebeu. Já tinha estado ali antes: não há muito
tempo, mas não se lembrava como tinha escapado. Só que o tinha conseguido. O
seu astral já virado para a desistência mudara rapidamente e, mesmo ela não
tendo reparado, um brilho acendeu-se na sua alma. Levantou-se mais rápido que o
vento que sopra em dias invernosos e desatou a correr – para todo o lado,
qualquer lado, nenhum lado. Correu até o fôlego lhe roubar forças e cair de
joelhos no chão, inspirando e expirando de forma agressiva. Queria sair dali.
Não queria mais uma vez deixar-se levar pelo medo, pelas angústias e pela
tristeza que a levaram a atirar-se para o buraco negro. Precisava de fugir, mas
não sabia como; precisava de gritar um socorro,
e nenhum ar lhe saía dos pulmões. Como é
que me deixei abater por estes sentimentos malditos?, questionava-se
consecutivamente. Pôs as mãos à cara, e mesmo sabendo que nem ela própria se ia
conseguir ouvir, gritou. Chorou. E lembrou-se. Recordou aquilo que a prendia à
sua vida, o mais importante de tudo que, por momentos, se esqueceu: amar.
Percebeu que bastava agarrar-se a isso e tudo o resto iria parecer ínfimo. Era
difícil, claro. Ela sabia-o. Parecia muito mais fácil na teoria do que na
prática, mas foi este simples pensamento, que lhe abriu uma porta. Olhou para
cima e conseguiu ver o céu – o seu tão precioso céu, aquele a quem contava as
suas amarguras e vitórias, o espelho no qual se via todas as manhãs ao
despertar, e todas as noites antes de adormecer.
Acordou repentinamente na sua cama.
Sentia que lhe tinha saído um peso do peito, e tinha objetivos bem definidos na
sua cabeça. Vestira-se, arranjara-se, e decidira sair à rua. Antes de o fazer,
foi à caixa de correio: uma carta. Uma carta de quem menos esperava.
Aí
compreendeu,
que
o amor a elevara até ao céu.
Sem comentários:
Enviar um comentário