sábado, 4 de dezembro de 2010

close the door

Ela chama por mim em silêncio. Parece que pede por socorro. Em vez de me fazer doer os ouvidos, faz-me doer todos os músculos do corpo... O que se passará se eu a abrir? O que verei do outro lado? Talvez não haja nada, e eu caia num poço sem fundo; talvez esteja lá alguém que me quer dizer alguma coisa. Ou simplesmente, talvez eu abra a porta e, como normal, esteja lá o meu quarto. Mas não, não pode ser. Tudo me indica que não estou numa situação normal. Há lá algo: pode não ser palpável, visível, ou até audível. Mas tem de haver alguma coisa, e o meu intuito diz-me que sim. De repente, vejo-me a meros centímetros dela, a minha mão na chave. Não, não posso entrar sem ter certezas do que está do outro lado! Mas é como se a minha mente estivesse sem pilhas, e a minha mão se movesse à luz solar. Acto contínuo, comecei a ouvir ranger... Ela estava a precisar de ser mudada, já tinha avisado a minha mãe. Como não podia fazer mais nada, engoli todo o medo, fechei os olhos, e deixei acontecer. Muito devagar, senti a porta ser arrastada para trás por mim. O meu pé direito foi o primeiro a avançar, mas continuei com os olhos fechados. Ainda não estava preparada. Silêncio. Suspiros. Suspiros? Abri os olhos rapidamente. Estava tudo normal, tal e qual como havia deixado esta manhã. O medo dissipou-se, mas as interrogações continuaram comigo. Continuei a caminhar em frente até à janela, e atrás de mim a porta fechou-se de rompante. Parecia como daquelas vezes em que quando deixamos a porta aberta e abrimos uma janela: o vento entra pela casa dentro e fecha-a, fazendo imenso barulho, como um trovão. Mas a janela estava fechada. Corri para a porta e tentei abri-la, em vão. Estava trancada, e a chave estava por fora. Virei as costas e deixei-me escorregar, lentamente, pela porta abaixo. O meu olhar foca-se no chão, e, do nada, um papel passa por debaixo dela. Cuidadosamente, pego nele e abro-o.

«Agora, é apenas um pouco de madeira que nos separa. Se me deixares entrar no teu coração, eu deixar-te-ei sair dessa prisão. Juro-te que ela não passa de um casulo que formaste à tua volta. Ele é feito de medo, apenas. Confia em mim, e a porta abrir-se-á.»

Fechei os olhos, encostei o bilhete com remetente anónimo ao peito e adormeci. Sonhei com prados verdes que cheiravam a magnólia. Havia um limoeiro com uma sombra apetitosa, e dirigi-me para lá. Os meus passos não eram simples passos. Eram passadas de gigante que mais pareciam saltos. Sentei-me e parecia que a árvore me abraçava ternamente... Ah?!
Acordei, mas continuei de olhos fechados. Alguém me fazia festas no cabelo muito carinhosamente. Abri os olhos só um bocadinho - tal e qual os gatos quando estão muito sonolentos - e vi.
Do outro lado do quarto, mesmo à minha frente, a porta estava aberta.
Inesperadamente, alguém me beija o pescoço e me diz suavemente que me ama ao ouvido, num sussurro que me faz arrepiar das pontas dos pés à ponta dos cabelos...


19 comentários:

  1. adorei, adorei, adorei *-*
    - selo no meu blog.

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  2. tão lindo, já nem sei o que dizer dos teus textos, sabes que são perfeitos.

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  3. Obrigada pequenina *.* Delicio-me com os teus textos, grande escritora!

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  4. de facto é o melhor para eles mas o pior para nos :((

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  5. amei o blog, os textos a música #.#
    -ja estou a seguir :3

    http://sem-rumo-o-caminho-e-pra-frente.blogspot.com/

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  6. oh ainda bem que gostas-te, obrigada por seguires querida @
    o teu também está mesmo magnífico!

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  7. pequenina, dói sempre muito, e tu sabes* um beijinho

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  8. texto lindo *-*
    estou a seguir-te!
    beijinho **

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