domingo, 20 de março de 2011

nada


Vou caminhando a passos de bebé pela rua. Sinto-me uma sem destino. Não sei quem sou. Vou passando por casas, lojas, e vejo carros a passar na estrada. Ouço vozes mas não percebo o que dizem. Há algo dentro de mim que me puxa sempre em frente, mas sei que não vou a nenhum lado em concreto. É uma corda invisível, uma força inabalável que me move o corpo. Não sei o que se passa no meu interior; um furacão de sentimentos mói-o e tira-lhe a vontade de pensar e de ser ele próprio. O que se passa comigo, só Deus saberá.
Estes passos desengonçados, tempo a tempo, vão-me levando até à praia. Quando chego lá, descalço os pés e a areia - oh, há quanto tempo não a sentia! - faz desanuviar as dores que sinto no meu coração. O céu já escurecia e o mar subia pelo areal. Sentei-me perto dele, onde as pontas dos meus pés podiam tocar a água salgada. Tinha frio, mas nem sequer sabia onde era a minha casa - mas eu tenho ou tive alguma? não relembro o ontem, sequer. Subi os joelhos e encostei neles a cabeça. Fechei os olhos e fiz um esforço, mas a vontade do meu cérebro não correspondia com a minha. Levantei a cabeça e olhei o horizonte. O sol já se tinha posto, e isso fez-me sorrir, como se o final do dia me desse a entender o fim destas sensações horríveis e exasperantes. Eu parecia-me a mim própria muito calma, quando só me apetecia gritar «o que é isto?», quando só me apetecia rasgar-me a mim própria a meio e arrancar as entranhas para poder deixar de sofrer. Nem sequer sabia se tinha motivos para isso. Simplesmente, estava a zeros.
Quando a água já me cobria os pés, levantei-me a inspirei o ar salgado que pairava à minha volta. Passei a mão no cabelo (que estava nojento, pensei) e de seguida coloquei-a no bolso. Deixei-me ficar por ali... Sabia já estar gripada e muito, muito fraca mas, quando apenas ouvia o barulho do mar e a escuridão me assombrava os olhos, fraquejei. Caí de joelhos e desatei a gritar. Gritei com tudo o que tinha e não tinha. Depois, quando a voz me falhou, deitei-me até encharcar toda a roupa. Aí, decidi uma coisa: ia ficar ali. E depois, talvez, as dores me passassem. Talvez eu me lembrasse porque vim aqui parar, porque não sei quem sou, porque não tenho vontade de viver e porque não sei definir como me sinto.
Quando a dormência me começou a tomar conta do estado de espírito e a minha alma começou a congelar, eu sabia que Ele já estava a tomar conta de mim. Sabia já ter uma casa, o meu lar, onde, quando lá chegasse, encontraria uma cama fresca e apetecível com lençóis lavados.
Mas no fim, quando já não me sentia por completo, soube de passagem, como se uma ventania me tivesse dado um estalo de cada lado da cara, que o porquê de eu ter um vazio no lugar do meu órgão pensador era porque ninguém neste mundo gostava de mim. Por isso, não soube mais nada. Absolutamente nada.

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