sábado, 27 de novembro de 2010

amanhecer desesperante

Acordei, olhei para o meu lado e não estavas lá. Mas a marca da tua cabeça sobre a almofada ainda se notava... Tinhas saído do meu lado há pouco tempo, e eu sentia-o. Mas havia algo de estranho no ar. Não era um aroma diferente, mas eu sentia o ar mais pesado, sentia isso no mais profundo dos meus dois pulmões. E isso não podia ser bom sinal. Para onde terás ido? Tomei rumo à sala: a televisão tinha sido abandonada por um fantasma fugitivo, e encontrava-se num canal desinteressante qualquer; o comando estava no meio das almofadas do sofá, como se quisesses que não o encontrasse. Segui a lógica do teu pensamento, peguei no comando e voltei a pousá-lo numa mesa mais à frente. Continuei o caminho até à cozinha, e o cenário era parecido ao da sala: alguém tinha passado ali e deixado a sua marca de uma forma assombrosa. Todas as portas dos armários estavam abertas, o frigorífico vazio tinha sido deixado completamente à mão de Deus, as cadeiras tinham sido arrastadas para trás e as cinzas da fogueira estavam espalhadas pelo chão. Parecia ter passado ali uma tempestade. Não toquei em absolutamente nada, tinha medo: não que tivesses sido tu a fazer aquilo, mas tinha medo de ser sugada por um buraco qualquer que me transportasse para as trevas ou algo parecido, e assim não pudesse ver-te nunca mais...
Voltei ao quarto, e enquanto passava pela sala notei que agora a televisão estava desligada e o comando tinha voltado a mudar de sítio. As lágrimas inundaram-me os olhos «és tu, meu amor?». Quando entrei desesperada e loucamente pelo quarto dentro, tive um vislumbre momental: parece que em fracções de segundos te vi deitado na cama com a nossa fotografia ao peito e, logo a seguir, dou por ti a saltar pela janela, com as cortinas a entrarem pela casa ao sabor do vento, o vidro da moldura da nossa fotografia partido no chão, e o teu olhar de mel sobre mim.
O teu suave, perfeito e aconchegador olhar que há anos sonhava voltar a ter sobre mim desde que partiste e me deixaste sozinha.

12 comentários:

  1. Nossa, lindo, lindo mesmo! Adorei teu blog, flor. Sigo-te



    http://seriaeuessa.blogspot.com/

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  2. esta fabi escreve mesmo muito bem. adoro, adoro *

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  3. Tu escreves muito bem mesmo, moça.
    Passo por aqui mais vezes.
    Beijas :*

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  4. está lindo, perfeito, magnnifico *-*
    sim, as vezes as musicas trazem um misto de sentimentos, fazem-nos sofrer porque estão associadas a coisas que infelizmente acabaram, e ao mesmo tempo saudade e alegria por aquilo ter acontecido.

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